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Procuramos muito e encontramos, especialmente dentro do espectro da música mais alternativa e pesada, aquela representação da escuridão, da melancolia e de tudo o que é depressivo. E muitas dão-nos realmente a atmosfera, mas atribui-se com alguma facilidade a materialização desses conceitos, até chegar algum que realmente nos faça repensar. Algum que realmente traga imagens visuais e sensações no meio do que quer que optem para a sua sonoridade, aqui neste caso será fuzz, riffs gigantes e voz hipnótica. “Celestial Blues,” segundo álbum dos King Woman, é um exemplo de algo que corresponde tão bem à nossa procura e que nos auxilia na frustrada resposta à pergunta “porque hás-de querer algo que te deprima?”
Mais um importante ponto na tão ecléctica carreira de Kristina Esfandiari – basta olhar para a quantidade de projectos que tem e a disparidade de estilos que pratica neles – e um igualmente importante registo para o panorama pesado actual, sempre assente em procura espiritual, trauma e opressão religiosa. Temas que não são novos mas sempre presentes e que precisam sempre de novos métodos para lidarmos com eles. Algo que nos faça imergir. E se por vezes dor e sofrimento é algo que também gostamos de ouvir para realmente o sentir e identificar, – ainda estamos todos a sarar as feridas deixadas por Lingua Ignota há dois anos atrás e ela já aí anda novamente – outras vezes precisamos de algo que nos reconforte, que é o trabalho desempenhado pela voz de Esfandiari, que protagoniza estas composições envolventes, que nos orienta pelo minimalismo-não-tão-minimalista da instrumentação, que nos conta as estórias, que nos faz ver-nos tanto num espaço apertado e escuro como a olhar para uma paisagem infindável, dependendo de como queiramos.
Musicalmente, retira algum foco no psicadelismo da aclamada estreia, mantendo o tom dreamy no meio da escuridão – que compõe uma boa parte do charme disto – e volta-se para o mais fuzzy e fumarento, o atmosférico sem se esquecer do peso com os riffs sludgy que imediatamente fazem ruir as paredes do local escuro para onde Esfandiari nos tinha levado e deixam entrar o desespero – como em “Boghz” ou “Entwined” – para um doom metal de categoria, com tantas roupagens que lá nos leva para o pós-qualquer-coisa. As comparações a Chelsea Wolfe ou à fantástica colaboração entre os Thou e Emma Ruth Rundle serão inevitáveis mas num bom sentido. Que nos volta a reassegurar aquela questão chata do início. Afinal estas emoções pesadas e negativas também são belas. E vamos lembrar-nos deste disco realmente celestial no final do ano. Até porque ainda vamos estar a ouvi-lo até lá.
Morning Star, Boghz, Golgotha
Chelsea Wolfe, Mammoth Weed Wizard Bastard, Ides of Gemini