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Terrível crescer no meio da fama e entrar na idade adulta sob o olho de toda uma população mundial, muita coisa é retirada, muita coisa não se deve fazer, tem que se lidar com o “preso por ter cão e preso por não ter” e com cada coisa que diz, tendo meio mundo a atacar, com desdém, cada inspiração de ar que faça, e a outra metade, com admiração, a exigir-lhe o mundo. Saúde mental é finalmente um assunto a tratar actualmente, mas não parece ser por isso que também exista mais compaixão. A preocupação geral com Britney Spears chegou um par de décadas tarde e alerta para as estrelas pop controladas e com outras forças maléficas a puxar as cordas. O que não indica que também não existam dificuldades para uma jovem estrela self-made. Como Billie Eilish.
A longa introdução tinha que dar nalguma coisa. São essas batalhas internas e externas que inspiram o difícil segundo álbum de Billie Eilish, que nem consegue esconder a ironia no titulo “Happier Than Ever.” Os problemas não podiam escapar a quem será a maior estrela pop na era das redes sociais e a ela também podemos “confiar” a forma criativa como lidaria com isso. Um álbum introspectivo, reflectivo e até crítico, porque pode. Sem aqueles singles enérgicos e dançáveis da estreia, sem o tom provocador e os esgares, sem a procura da identidade numa tenra idade que podia dar para o torto. O aparente minimalismo maior e a falta de uma “bad guy” são meros falsos alarmes que se notam apenas à primeira audição, “Happier Than Ever” é uma audição mais aventureira que “When We All Fall Asleep, Where Do We Go?”
Esse fio condutor mais simplista esconde o verdadeiro ecletismo sonoro inteligentemente subtil. É um álbum pop melancólico electrónico, sem dúvida, assente num R&B mais contemporâneo e a preferir o downtempo e a sophistipop às cedências à bubblegum e ao hip hop ao qual podia recorrer com mais facilidade. Onde não deixam de haver, além de trip hop, jazz e toda uma contínua exploração de outros estilos por uma artista irrequieta – por muita graça que tenha um título como “Billie Bossa Nova,” tem rigor. Faz da sua voz guia e é capaz de nos trazer temas pesarosos como “Lost Cause,” “Halley’s Comet” ou “Male Fantasy” que a deixam mais próxima de Lana Del Rey do que alguma vez tenha estado. E que não tenha aquele single de deixar aos saltinhos e para invadir o TikTok, não deixa de ter uma “NDA” ou uma “Therefore I Am” familiares que podiam constar na estreia, uma mais enérgica “Oxytocin” ou uma faixa-título de clímax roqueiro, sendo também capaz de despir disso tudo e voltar-se para o acústico numa “Your Power,” onde volta a invocar Lana na voz. Pode ser o disco da Billie para a Billie, mas tem a sua demografia-alvo – qual será a jovem do sexo feminino a ficar indiferente à mensagem da interlúdica “Not My Responsibility”? – e com o qual qualquer um se pode identificar, independentemente da idade ou género. E dar mérito a alguém que, num meio onde música é tão descartável e tão facilmente se engole a si própria, tem algo com profundidade e emoções. E que recorra a uma das coisas da qual a música pop se livra mais imediatamente: a criatividade.
Lost Cause, Overheated, Happier Than Ever
Lana Del Rey, FINNEAS, Clairo