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Lá vamos nós novamente olhar para os paralelismos entre os tempos que vivemos e aquilo que ouvimos. Mas é inevitável. Da mesma forma que também é inevitável partir por aí, é inevitável a escuridão, um certo cinismo, uma anti-catarse que se atinge quando olhamos à nossa volta e nada parece ajudar para se dar o contrário. Podemos ser esperançosos, mas nunca conseguimos deixar o pessimismo. É uma boa maneira de encarar mais uma impressionante proposta dos Redemptus que, assim à bruta, são capazes de ser bem melhor ferramenta de terapia que toda a pseudo-auto-ajuda ou mensagens motivacionais e inspiradoras das webs. Os mesmos Redemptus que já nos disseram que todo o coração vermelho se torna negro. Agora instruem-nos a lidar com estar “Blackhearted.”
Que este discurso se deixe encher de clichés, tais não existem na música dos Redemptus e não foi com eles que conquistaram o underground nacional. Mas atentamos ao vocabulário que prevalece em “Blackhearted” e as vezes que Paulo Rui exclama “light” e “darkness.” E será aí entre a luz e a escuridão que estará o modo mais saudável de viver. No reconhecimento da necessidade de um para existir o outro. No saber encarar o que nos assombra individualmente e ao mundo inteiro e conseguir deixar entrar a necessária nesga de luz e positivismo. Que é realmente como “Blackhearted” se manifesta além das letras e dos temas. Por entre tremendos riffs – que já partilham mais protagonismo com a atmosfera – e a habitual agressividade vocal, – que não se perde com voz limpa – são dos temas mais luminosos e esperançosos que o trio já tenha composto sem abdicar de qualquer peso ou o tal habitual breu. Contraditório que seja, falamos mesmo de balanço e nem o constante abanar de cabeça nos distrai dessa “missão.”
Um disco evolutivo, mesmo seguindo o caminho familiar traçado pelos dois anteriores discos, com riffs sludge verdadeiramente imperativos, com espaço para a parte ambiental e para aquele brilho pós-rock, que realmente melhor funciona para qualquer sensação de “olho do furacão” na música extrema. Tudo a revestir um hardcore musculado de formas que não se esperariam de um género mais uniforme, algo em que membros dos Redemptus já tenham experiência prévia – não vamos sequer tentar ignorar a influência que os EAK realmente deixaram no panorama. Dá aquele pós-qualquer-coisa, mas do bom, daquele diplomado na incontornável escola “Cult of NeurIsis.” “Blackhearted” é mais uma experiência apoteótica dos Redemptus, um exercício de superação e introspecção, de convívio com as nossas trevas, de realismo esperançoso, de enxote das malditas redes sociais que afinal só nos dividem ainda mais. Porque precisamos dos Redemptus e precisávamos de “Blackhearted.”
Blackhearted, How Much Pain Can Fit in One’s Chest, Purged by Light Engulfed by Darkness
Sumac, Amenra, Neurosis