Skepticism

Companion
2021 | Svart Records | Funeral doom metal

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Funeral doom, um daqueles rótulos chatos, que parecem já específicos demais, porque é que não lhe podemos chamar só doom ou, se realmente é inevitável aumentar os termos e meter-lhe todo o tipo de prefixo e sufixo, death doom. Tanta banda a quem isso lhe é atribuído e o recusam – difícil tirar razão aos Ahab que, com o seu tema náutico e capas com todas as cores de um coral, se afastam um pouco dos outros. Mas é um termo que se justifica e se vamos colar essa etiqueta, que seja em quem começou com essa brincadeira. E para isso, mesmo estando aqui em ambiente fúnebre, celebremos: os Skepticism têm um novo álbum!

Companion” vem realmente fazer-nos companhia após seis anos de espera – nunca foram de pressas na hora de lançar discos – e instalar aquele ambiente chuvoso que sempre lhe associamos, que se mantém muito seu apesar de já ter influenciado imensos. Foi sempre aí que esteve a sua identidade. Não são só aqueles tipos sem baixista que se vestem mesmo como uns reverendos funerários. São aqueles capazes de criar uma incrível atmosfera densa e melancólica através do arrasto maior de um já negro doom, sem sacrificar o peso dos riffs, muito pelo contrário, e acompanham tudo com uns sintetizadores, lá está, de natureza fúnebre – dá para entender mais ou menos ou é preciso o órgão introdutório de “The March of the Four” para tirar dúvidas? Temos aí a definição do que é o tal funeral doom e defende-se aqui que, de facto, os Skepticism são sinónimos disso. Mas como não escrevemos aqui para recém-chegados ainda ignorantes a muita coisa, estão fartinhos de saber isso, e convém deixar as apresentações de lado e focar no que “Companion” consegue. E consegue manter o trajecto que traçaram desde o início, agora novamente mais “directo” do que outros desvios mais experimentais.

Sempre orgânicos e crus – o anterior “Ordeal” foi mesmo gravado ao vivo, em frente a uma plateia, mas com uma maioria de temas novos para funcionar como um álbum convencional – mesmo que com uma consciência mais progressiva e com muito ênfase nos riffs, para algo mais baseado em ambiente e atmosfera. Talvez sejamos alarmados logo pela entrada com “Calla” a soar-nos um pouco mais rápida que o que esperaríamos, mas é um ligeiro aceleramento que não afecta a integridade da sua música e a procissão rapidamente retoma a sua lenta passada. Matti Tilaeus soa já resgatado do fundo do poço de onde se costumava lamentar, um de vários indicadores de que já não dá para soar como no “Stormcrowfleet” ou no “Lead and Aether,” mas não dá para tentar dizer que os Skepticism estão mais “acessíveis” sem um esgar de gozo. Os dias vão ficando mais cinzentos, curtos e escuros. Já começamos a vestir uma manga ou um casaquinho ao ir lá fora, onde já se vê a folhagem a mudar de cor e a cair. Cá dentro, as bebidas começam a saber melhor quentes, procura-se o aconchego e “Companion” dos Skepticism vai tocando repetidamente. O Outono chegou mesmo.

Músicas em destaque:

Calla, The Intertwined, The March of the Four

És capaz de gostar também de:

Evoken, Esoteric, Mourning Beloveth


sobre o autor

Christopher Monteiro

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