Deafheaven

Infinite Granite
2021 | Sargent House | Shoegaze, Dream pop, Pós-rock, Blackgaze

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Pronto, caldo entornado. Ou então não, se calhar agora é que se estão a dar as limpezas. Depois de anos a ser uma banda tão polarizadora, já estávamos habituados aos Deafheaven como aquela banda pecadora, de levar à cruz, por misturar influências e tornar o black metal bonitinho – ou colocar black metal em coisas bonitinhas. Sacrilégio já cometido por outros, mas que não deixou que faltassem pedras para arremessar a este agora quinteto de San Francisco. A acusação de que não são uma banda de black metal é aquela arma supostamente letal. Então vamos lá acabar com o melindre de uma vez: “Infinite Granite” não é, de facto, um álbum de black metal.

Talvez antevisto por alguns, mas ainda a surpreender muitos, os Deafheaven comprovam que são realmente uma banda imprevisível ao despir-se da parte extrema para este novo disco. Já quase não há black metal, já não estão a blasfemar o blasfémico. Focam-se inteiramente na parte shoegaze que esteve sempre presente na sua música, os riffs que oscilavam entre o fuzz, o peso distorcido e os tremolos, agora procuram mais forma no pós-punk, a bateria estará no seu mais técnico, sem recorrer tanto aos blastbeats e as vozes acalmaram-se, sem tanta necessidade da berraria, com um gentil canto a guiar os temas no seu campo melódico. Pronto, está aí o “Shelter” dos Deafheaven. Há paralelismos – sempre houve com os Alcest – mas é redutor. “Infinite Granite” tem um uma forte resistência a todos os dedos em riste que possam estar voltados na sua direcção, que questionem a sua integridade como banda de metal extremo – do tipo “preso por ter cão e preso por não ter” – ou a pôr em causa se tudo o que está é ou não inegavelmente Deafheaven.

Se dissermos que “Infinite Granite” é apenas aquele álbum dos Deafheaven em que deixaram o black metal, ou o blackgaze, quer seja apenas uma situação “one off” ou mesmo um virar de página, estamos a vendê-lo por muito pouco. Há destaques a dar a toda a docilidade dream pop que, de facto, soa a Alcest, mas também funciona muito bem por entre o sinistro e obscuro que ainda aqui paira, pelo meio de toda aquela ambiência pós-rock. E estaríamos a ignorar o recurso ao pós-punk clássico como fonte de melodias – “Great Mass of Color” – e ao crescendo que acompanha todo o disco na sua duração. “Infinite Granite” intensifica-se e notamos, a cada nova audição, o quão mais catártica e até pesada é a segunda metade do disco. Para acabar? “Mombasa” e peguem lá o black metal, se estava em falta, depositado aí nessa faixa final, num clímax ideal. Que até pode dar a impressão de fechar um capítulo, antever um regresso às bases no próximo trabalho e deixar este “Infinite Granite” como um interlúdico olho do ciclone. Não ajuda a responder à velha questão chata se são realmente uma banda de black metal. O mais certo é que não sejam e nunca tenham sido, são só os Deafheaven. Com capas cor-de-rosa ou da cor que lhes der na real gana.

Músicas em destaque:

In Blur, Great Mass of Color, Mombasa

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Alcest, Slowdive, An Autumn for Crippled Children


sobre o autor

Christopher Monteiro

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