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Não está em causa a assiduidade discográfica dos Boris, bem sabemos o quanto abusam disso e nem sempre nos dão muito tempo para digerir a sua mais recente dose de barulheira, até deitarem cá para fora outra. Contam-se “só” 27 álbuns com este novo “W”, fora as colaborações e outras experiências. Uma apresentação algo desnecessária porque também não está em causa o estatuto dos Japoneses na música alternativa ecléctica.
Ainda há uma fenda de dois anos entre este novo “W” e o seu antecessor “NO” mas a ideia é um ser o complemento do outro. Juntando mesmo os dois títulos para formar a palavra “NOW,” que nem é das brincadeiras mais complexas mas que não deixa de ter a sua curiosidade. “NO” não teve a sua apreciação aqui por estas páginas mas, para situar, pode recordar-se que foi um dos discos mais crus dos Boris em anos, recorrendo ao peso do hardcore, do sludge, daqueles paredões sonoros que são os seus riffs, para recuperar um peso como já não se ouvia vindo deles há algum tempo. Resumindo ainda mais, foi um dos grandes discos do ano de 2020 e um clássico moderno para os Boris. “W” segue-o directamente, não dando continuação à agressividade sonora, mas optando exactamente pelo contrário. A outra faceta do trio Japonês: a ambiental. O espectro contrário, onde os Boris têm tanto ou mais conforto e hábito, porém, ainda com experimentalismos menos habituais a encontrar-se aqui.
Mais submerso em drone e num ambiente pós-industrial que nos seus habituais psicadelismos, não deixa de ter a sua habitual aura cinemática, podendo fazer lembrar mesmo algumas das bandas sonoras que já compuseram. Torna-se mais hipnotizante ainda ao ter toda a performance vocal entregue à guitarrista Wata, que comanda os ambientes diferentes para onde vamos, e que invoca por vezes uma espécie de Pixies da quinta dimensão numa “Drowning by Numbers” ou de uns Portishead envoltos numa densa névoa como em “Invitation.” O álbum, mesmo andando mais pelo lado minimalista e ambiental, não se deixa ficar uniforme e não deixa o peso de lado, com riffs e distorção a dar um ar da graça em “The Fallen” e um clímax catártico como o de “You Will Know” a atingir aquilo que muitas bandas de pós-rock ou drone procuram. E resulta assim mesmo, e não apenas como um anexo ou um complemento de outro disco, mesmo que explorações mais a fundo encontrem realmente ligações directas. Mas não é uma brincadeira à Flaming Lips ou uma ideia à Tribes of Neurot. “W” é um álbum diferente, que ainda consegue o seu brilho por si.
Drowning by Numbers, The Fallen, You Will Know (Ohayo Version)
My Bloody Valentine, Tribes of Neurot, Tangerine Dream