Jethro Tull

The Zealot Gene
2021 | InsideOut Music | Rock progressivo, Folk rock

Partilha com os teus amigos

Velhos são os trapos e até para esses se arranja alguma utilidade. Quanto mais lendas! Definitivamente nunca devemos dar algo parado como acabado e uns dinossauros assim como os Jethro Tull podem voltar aos discos a qualquer momento. Dezanove anos depois do seu último registo de estúdio e vinte-e-três anos depois do seu último registo de originais. Escolham qual preferiam que fosse o seu canto do cisne: um disco de natal ou um “J-Tull Dot Com” que se revela exactamente aquilo que uma data de indivíduos de meia-idade a velhos faria, a tentar parecer futurista, enquanto muito desconectado com as tecnologias digitais. Pois, se calhar um depois desses até é bem-vindo.

Chega “The Zealot Gene” e até traz alguma confusão consigo. É que esta malta não andava a dormir até agora. Ian Anderson continuava a editar em nome próprio e muita da sua banda era feita de indivíduos dos Jethro Tull, de qualquer forma. Qual é a diferença entre um álbum de Ian Anderson e Jethro Tull? Em suma, o nome que lá está, mas é um regresso suficientemente celebratório para deixarmos esse cinismo de lado. Há receio de uns Jethro Tull perdidos na própria idade e nos tempos em que vivem? Nem dez segundos da primeira faixa passam e já somos aquecidos pela habitual flauta de Anderson. Estamos em casa. E mesmo que essa mesma faixa de abertura se deixe rechear com tiques de “dad rock,” inicia um autêntico desfilar de tiques Jethro Tull, mesmo que se foque mais na parte folk. Até gostaríamos de sentir um pouco mais de intensidade dos tipos que fizeram o “Aqualung,” até ficamos a desejar que as guitarras de uma canção como “Barren Beth, Wild Desert John” se intensificassem e, além da voz de Anderson, muito de “The Zealot Gene” grita “já estamos velhos.” Mas não ficamos indiferentes ao aconchego da flauta de assinatura e às melodias mais envolventes de uma “Shoshana Sleeping” ou “Three Loves, Three.

Muito folk para quem preferiria uns Jethro Tull mais hard rock e com muitas faixas a não conseguir destaque entre outras mais bem conseguidas. Mantém um tema Bíblico ao longo de todas as canções e até nos passam despercebidas as suas referências a uma sociedade pós-11 de Setembro e pós-Trump. É um álbum que vem de uma banda lendária que já fez dos maiores clássicos do rock progressivo, recusando por absoluto o rótulo, já arrecadou um muito confuso Grammy de “melhor performance metal” e até podem discutir, entre risadas, se é o Louis CK ou o Walter White na capa do disco. Mas, por muito a meio-gás que esteja “The Zealot Gene,” se calhar nem lhes podíamos pedir mais do que isto.

Músicas em destaque:

Mrs Tibbets, The Zealot Gene, Shoshanna Sleeping

És capaz de gostar também de:

Harmonium, Atomic Rooster, Emerson Lake & Palmer


sobre o autor

Christopher Monteiro

Partilha com os teus amigos