Placebo

Never Let Me Go
2022 | Rise Records, So Recordings, Elevator Lady | Rock alternativo

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O “pós.” Aquele tramado “pós.” Aqui a referência não é a nenhum prefixo muito utilizado para descrever géneros musicais, é um bem mais traiçoeiro, um “pós-relevância” que já tinha vindo a assombrar os Placebo. Importantíssima banda alternativa do virar do milénio, de um inegável talento melódico, mas que não andava a editar os seus melhores trabalhos ultimamente. Só eleva a importância deste “Never Let Me Go,” que dá a volta a tudo e instala aqui o “pós-recuperação.”

Levaram o seu tempo, o que foi inteligente. É que o tempo anda muito depressa mas já lá iam nove anos desde “Loud Like Love,” estabelecidíssimo como o álbum mais fraco dos Placebo. Ficou exposta a necessidade de um repensar, e foram mandando um Unplugged aqui, um EP ali, uma compilação a entreter por aí. Tudo estratégias para fintar o problema visível de alguma falta de criatividade. Que pode acontecer a qualquer um, mas que dói mais quando calha a uma banda tão criativa quanto os Placebo. Sentia-se a falta daquele rock melancólico e cínico, que se orientava tanto por ruído, como por melodias e sintetizadores estridentes, com toda a carga emocional, sarcástica, sexual e de outsider que seduziu tantos. A mais adulta banda juvenil não parecia estar a crescer. Os ruidosos sintetizadores de “Forever Chemicals” abrem-nos os ouvidos esperançosos e ali pela “Surrounded by Spies,” com tanto de “Sleeping with Ghosts,” já nos tem de braços abertos a receber uns Placebo em forma, com belas canções como “Beautiful James,” “Hugz,” “Happy Birthday in the Sky,” ou “Sad White Reggae.

Tanto têm algo tão simples como “Try Better Next Time,” como se completam com uns arranjos sinfónicos em “The Prodigal” – que até pode lembrar mais ali o “Battle for the Sun,” mas nos seus melhores momentos – e ainda rematam com um tom alegre em “Twin Demons” que até meio lembra Kaiser Chiefs, of all people, e conclui em tom baladeiro – “Went Missing” e “Fix Yourself” até trazem ares de “My Sweet Prince.” Eclético mas dentro da familiaridade, daquela assinatura Placebo que lhes conquistou o mundo. Reduzidos a dupla mas focados, nostálgicos mas conscientes, experimentais mas também contidos. Um álbum que ganha mais força a cada audição, mesmo que se sinta sempre muita mais na primeira metade. E sim, a chegar aos cinquenta anos, Brian Molko pode perfeitamente ser tão andrógeno e nasal como sempre foi. Percebe-se porque é que “Never Let Me Go” tem vindo a ser recebido com tanta satisfação e porque é que “o melhor desde o Meds” parece ser o seu título não-oficial.

Músicas em destaque:

Forever Chemicals, Beautiful James, Surrounded by Spies

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sobre o autor

Christopher Monteiro

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