“Ainda Por Cima” é a expressão usada para resumir a história do álbum em poucas palavras. Aborda temas inerentes na vida contado de uma forma cronológica situada num suposto referencial com uma posição bem definida, seja essa atrás ou à frente, pela esquerda ou pela direita, por baixo é onde tudo começa, mas lá no cimo tudo se torna esclarecedor.

É a canção que introduz o álbum e por ser a primeira fiz questão de homenagear a freguesia onde cresci e dar lhe o título Ág. St. (Águas Santas). As primeiras memórias que retenho são provavelmente passadas nesta vila e inspirou-me na composição desta música.

Dou por mim muitas vezes a utilizar palavras com conotação religiosa, seja para exprimir ideias ou sentimentos, talvez o faça por estabelecer uma distância entre o físico e o que se considera metafísico.

É uma musica que surge de forma introspectiva onde reflexiono sobre bloqueios causados pela circunstância da vida, assim esta retrospectiva de toda uma viagem até os dias correntes faz-me perceber as tais dobras inertes no meu subconsciente tendo a vontade de as desdobrar e trazer para o campo da consciência onde a racionalidade opera e de alguma forma encontro algum esclarecimento. Acho que é um processo natural e inerente em todos os seres humanos, é uma propriedade de um ser pensante.

Tem piada porque a música transmite uma sensação uplifting, doce e etérea com alguma inocência, também devido ao efeito brilhante das guitarras, acho bonito o contraste entre a seriedade e a diversão. Tentar transmitir uma mensagem ainda por si abstrata mas torná-la canção é desafiante.

Esta lembra-me sempre as folhas de auto-avaliação. Normalmente os primeiros dois pontos são a assiduidade e pontualidade, virtudes que ainda batalho para adquirir em plenitude. É uma repetição lírica taciturna para chamar à atenção alguns dos meus defeitos.

Acho que já trago comigo no bolso esta musica desde 2016. É engraçado demorar -se tempo para lançar algo feito de forma ingénua e até imatura de certo modo. Na altura lembro-me que cantarolava o refrão mas não sabia com grande propriedade o que estava a querer dizer, sabia-me bem e as palavras juntavam-se com vontade e era tudo muito intuitivo, sem grandes problemas em fazer sentido ou não, só tocar e cantar por gosto. É bom quando se cria algo e não se percebe como lá se chegou, e hoje em dia percebo o quão bom eram esses momentos.

Lembro-me bem de construir a ideia para esta música em poucos minutos, foi tudo muito imediato. Dei-lhe o nome provisório “Páscoa”, na altura devia ser mesmo o domingo de Páscoa, soava bem e acabou por resistir ao tempo.

“Deferente, canal diferente, deferente canal à frente”, é o mote desta música. A deferência pela nossa matriz como ser humanos é o que de alguma forma nos define. É possível que haja sempre uma múltipla escolha e independentemente de qual se seja o rumo traçado é importante darmos como deferente a nossa decisão.

Acho que foi a canção mais desafiante em termos de produção. Eu e o Taseh que me ajudou do início ao fim nesta viagem sónica, criamos dar a esta musica uma densidade e atmosfera muito específica e foi muito gratificante chegar ao final e percebermos que tínhamos chegado aonde queríamos. Em contraste a letra fala sobre desdenhar do que já se tem, às vezes não aproveitamos o que está à nossa frente por acharmos que precisamos de mais.

É a mais “despida” de todas, apenas guitarra e voz para desvendar a inocência e o amor que provém dessa mesma.

É a expressão que mais uso para iniciar e concluir frases de forma coloquial.

Funciona como um interlúdio para esta escadaria musical, vejo o álbum como se fossem degraus, do ponto mais alto até à base, do etéreo ao âmago e por baixo das palavras que digo tenho sempre outras que escondo.

Magenta fala sobre a importância maternal e o quão decisivo é o papel de uma mulher na vida. Demonstra como um filho se revê em lacunas deixadas pela figura paternal por essa estar ausente. Mas o amor incondicional de uma matriarca poderá sempre ser a resposta na ausência de um ente vinculativo .

É a celebração em forma de refeição, é a alegria após tristeza.