GWAR

The New Dark Ages
2022 | Pit Records | Heavy/thrash metal

Partilha com os teus amigos

Esta coisa do shock value já está assim meia morta, não está? O que não deixa de ser curioso, numa era de tanta sensibilidade. Vale que ainda podemos confiar nestes monstrengos, guerreiros intergalácticos com a missão de destruir a Terra para mandar umas malhas além de regar o seu público nos concertos de sangue e outros fluidos fajutos. Numa altura em que bem podiam relaxar e ver o planeta a ser destruído pelos seus próprios terráqueos sem ter que fazer nada, em “The New Dark Ages” realmente têm um novo foco: combater contra uma outra versão deles próprios numa dimensão paralela.

Mas o conceito nem sempre é o que se chega à frente e se só quisermos prestar atenção à música – o que os mais sensíveis talvez quererão fazer com muitas das suas letras – temos que mencionar, antes dos monstros, o elefante na sala que é a voz. Até pode já ser o segundo álbum com Michael Bishop/Blothar – que já interpreta Beefcake the Mighty no baixo – na voz, mas é difícil habituar a ouvir GWAR sem a voz de Dave Brockie, o eterno e inimitável Oderus Orungus, que deixa tantas saudades. Mas sem isso em conta, há muita aclamação a dar à prestação vocal de Blothar, ainda mais neste do que no seu antecessor, trazendo imensas comparações favoráveis a Blackie Lawless e até com um pouco de Bobby Blitz Ellsworth, menos histérico, para dar personalidade a estes temas. Que também têm algo que se deva apontar de imediato: isto é o mais thrasheiro que os GWAR soam desde os seus velhos tempos iniciais em que ainda estavam mais agarrados ao crossover.

É também um álbum variadíssimo. Algo que também já poderia ser a sua marca desde o grande “America Must Be Destroyed,” um dos grandes álbuns da década de 90 e até de sempre que nem muitos queiram reconhecer. “The New Dark Ages” até pode nem ser bem esse, mas parece ter ambições semelhantes. Pelo meio da velocidade áspera como já não faziam há uns bons anos, há ainda ganchos pegajosos irresistíveis, há um pouco de Maiden em “Berserker Mode” ou “Rise Again,” a fonte de “Unto the Breach” é explicitamente Black Sabbath, há uma interessante colaboração de Lzzy Hale em “The Cutter” e disparatada boa disposição, que também nunca lhes falta, numa “Ratcatcher” bem regada de cowbell, e que juramos não ser do Alice Cooper. A sátira social e política é tão importante para o seu ADN como os disfarces grotescos e não falta, sem deixarem alguma vez a macacada de lado, como com o autotune intencionalmente parvo de “New Dark Age,” a punkalhadaCompletely Fucked” ou a caótica “Venom of the Platypus” que dispara por todos os lados e mete todas as referências supracitadas ali para dentro. Até um final longo ambiental têm, algo questionável, mas que se era para nos trocar as voltas, nada temos a dizer. Ainda há vida nestes GWAR, mesmo que não sejam exactamente os mesmos de há umas décadas atrás e já não tenham a atenção mediática de outros tempos. E trazem-nos duas garantias: o presidente Americano actual, quem quer que seja, será decapitado em palco; as nossas cabeças, podem manter-se agarradas ao pescoço, mas vão abanar muito à custa destes guerreiros extraterrestres.

Músicas em destaque:

Berserker Mode, Mother Fucking Liar, Venom of the Platypus

És capaz de gostar também de:

Green Jelly, Mr. Bungle, WASP


sobre o autor

Christopher Monteiro

Partilha com os teus amigos