Lobo Mau

Agarrado ao Mundo
2022 | Edição de autor | Rock

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Agarrado ao Mundo“, o novo disco de Lobo Mau, são 9 canções, conectadas com as anteriores no seu jeito rock-folk alternativo português e na sua poética introspectiva que é também transversal a um sentir comum a todos nós, e que salientam as cumplicidades dos seus elementos de banda de uma forma ainda mais gritante. São eles os músicos, autores e compositores Gonçalo Ferreira, Lília Esteves e David Jacinto, membros da mítica banda TvRural. À linguagem melódica e lírica, juntam-se nestas canções a ousadia da electrónica, o arrojo dos trompetes e dos kazoos, e a insistência da caminhada no ritmo das peles, das cordas e das teclas que acompanham a génese das canções – a guitarra e as duas vozes.

Aliciado por novas texturas sonoras, o lobo questiona e questiona-se, observa e observa-se, é e deixa-se ser, e, nesta relação ambígua entre o seu mundo interior e o que o rodeia, vai-se agarrando ao que lhe é familiar e fundamental.

Com o contributo artístico e enriquecedor dos músicos João Pinheiro na bateria, David Santos no baixo, Moisés Fernandes no trompete, João Gil nas teclas e Jorge Machado (My Noisy Twins) na electrónica, Agarrado ao Mundo é um conjunto de canções que podem ser ouvidas como uma só, começando com a forte batida do primeiro single e terminando com a corrente de ar que nos eriça a pele depois de uma viagem que dura em nós, bem para além dos 1877 segundos do álbum. O melhor, mesmo, é agarrarmo-nos a ele.

#1 3 Segundos de Nada

A letra e métrica saíram de um jorro, concisas e precisas e, ainda sem melodia, parecia quase um rap. Os acordes que se lhes seguiram foram como se, em 3 segundos, um velho e um cão descobrissem o segredo da vida, a comunhão plena entre dois seres que tem tanto de simples como de mágica.

#2 A Árvore

Antes dos primeiros acordes, a semente já lá estava à espera de sol, água e uma rajada de vento. Foi como se morasse em nós desde sempre e, então, deixámos que rompesse a casca e crescesse, como uma árvore.

A letra apareceu quando, depois da canção entoada, percebemos que era exactamente disto que ela falava.

#3 Estrada Sinuosa

É sinuosa como as estradas que percorremos sem saber que destino terão, e é um paralelismo com a vida quando, nas múltiplas questões que nos coloca, parece querer fazer-nos compreender que a certeza e a dúvida são uma só e a mesma coisa. E às vezes andamos em frente, outras andamos em círculos e outras ainda, paramos e deixamos que seja tudo o resto a andar à nossa volta.

#4 Admirável Mundo Morto

Primeiro apareceu um ritmo, como uma linha de um baixo, perpétua e afirmativa, que rapidamente arrastou até si os acordes, a melodia e a letra, depois de os arrancar daquele lugar inóspito em que se encontravam.

A canção pediu para sermos loucos e nós fomos deambular no deserto de um admirável mundo morto, enquanto atirávamos sons ao ar como pedaços de papel rasgado que se dissolvem quando caem no chão e passam a soar debaixo dos pés, provocando cócegas.

Foi fácil perceber que nos vai dar muito gozo ao vivo.

#5 Um Muro a Cair

Do baú do confinamento nasceu um assobio desconcertante acompanhado por acordes que, à distância e camada a camada, se foram (des)construindo em forma de muro, qual muro a cair.

#6 Aves Raras

Serão duas ou só uma e o seu espelho?, duas personagens ou dois estados de alma?, dois livros diferentes, ou duas páginas da mesma folha? são a nossa antítese ou o nosso reflexo?

Com uma natureza dual, a letra já nasceu com melodia mas só ficou fechada naqueles últimos minutos antes de a perpetuarmos ao microfone no estúdio de gravação, porque nos questionámos, até esse momento, se ela poderia ser a uma voz ou a duas, e se poderia ser o que é ou a sua metade. E ela foi como quis.

#7 As Migalhas Que Sobram

Partilhámos uma maquete à capela por e-mail. A melodia casava na perfeição com o imaginário lírico… e agora? Quais os acordes, quais as harmonias, qual o ambiente e quais os arranjos que a serviriam melhor?

Da bossa ao pop, do pop ao rock, esta “moça” ficaria bem em qualquer vestido. Houve até quem dissesse que a maquete nua e crua lhe assentaria tanto ou melhor que qualquer roupagem…

Optámos pelo nervo das guitarras. Mais roupas há-de vestir!!!

#8 Rua Deserta

Esta foi a primeira canção da fornada “Agarrado ao mundo” e surgiu naquele já longínquo primeiro confinamento. Os acordes agridoce espelhavam o sentimento dúbio daquela experiência única: por um lado o receio, a ignorância e o mistério, por outro o prazer absoluto de um desaceleramento brusco e brutal que nos ofereceu tempo e espaço para nos agarrarmos às coisas simples de um mundo cada vez mais estranho.

Duas ou três trocas de ideias por e-mail e a canção ficou feita.

#9 Corrente de Ar

Partimos para esta música com base numa premissa bem diferente das restantes e à margem do que estávamos habituados. A partir de uma base harmónica de padrão repetitivo, um tanto hipnótico, juntaram-se letras e melodias criadas separadamente, duas vozes livres na melodia e na estrutura, sem contacto aparente a não ser no tema: metamorfose, separação, reencontro – água!

Quando juntámos as peças percebemos que tínhamos algo especial. Foi das mais trabalhosas… e das que mais gozo nos deu.

Tour

15 de Outubro/ SHE, Évora
20 de Outubro/ O Bar Mais Triste da Cidade, Lisboa
21 de Outubro/ Village Underground, Lisboa
12 de Novembro/ Espaço Nativa, Odemira
23 de Novembro/ Bota, Lisboa


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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