IRAE

Assim na Terra como no Inferno
2022 | Signal Rex | Black metal

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Se andam desatentos ao que se vai fazendo de bom no black metal, podem fazê-lo por fases e começar a nível interno. Há muita coisa boa cá dentro para começar e o black metal nacional estaria a passar por um grande momento, se já não fosse esse tão extenso e contínuo. Se calhar aqui este cantinho sempre foi uma boa fonte da música crua e malévola. Se os IRAE são dos seus principais representantes e candidatos ao seu imundo trono, e já andam cá há uns bons anos, – décadas, já é plural – é porque sempre se blasfemou bem por cá.

Assim na Terra como no Inferno” é o aterrador longa-duração que sucede “Lurking in the Depths” e podíamos só dizer que é mais agressivo e que, na pureza do black metal que praticam, os IRAE não querem enganar ninguém. E parece estar aí o suficiente. Mas reiteremos. Eles até gostam de enganar um pouquinho. Ou de esconder as camadas de experimentalismo naquilo que, à primeira “vista”, é um disco de black metal no seu mais simples e cru. Que já podia estar óptimo assim, dada a sua bela – do modo horrendo – execução. E dá-nos uma primeira impressão, que esconde outra. Isto podia ser só um cagaçal violento, como a barulheira da introdução de “Relíqvia de Espinhvz” mas o lado melódico também anda por aqui em força. Até na mesma faixa! E há malta que gosta mais da parte atmosférica e melódica do black metal. Que também está aqui. A conviver com o basqueiro apocalíptico, mas está lá. E menos discreto que o que parece à primeira caótica audição.

Nem sequer são dois lados da moeda, os IRAE estão aqui a exclamar-nos que o black metal é assim. E acreditamos. Pode ser das performances vocais mais viscerais e desesperadas de Vulturius, – até uiva! – e também tem riffs inesquecíveis em “Enforcamento” ou “Símbolos do Império,” com passagens melódicas que até se deixam ganhar um groove ou pender para o épico. Se é permitido usar tamanhos palavrões de sacrilégio. Originalidade? Entra “Majestade de Sangue” e somos honestos: já ouvimos aquilo numa catrafada de discos noruegueses. Mas mesmo assim, acaba por ser uma lição para quem força o “raw black metal”, confundindo-o com “mal feito,” gravado num headset dos chineses, porque assim é mais trve. “Assim na Terra como no Inferno” é uma forte prova de até onde se pode realmente empurrar a linha da criatividade, mantendo a integridade intacta. Oremos!

Músicas em destaque:

Relíqvia de Espinhvz, Símbolos do Império, Enforcamento

És capaz de gostar também de:

Morte Incandescente, Black Cilice, Ordem Satânica


sobre o autor

Christopher Monteiro

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