Sanguisugabogg

Homicidal Ecstasy
2023 | Century Media Records | Brutal death metal

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Um género como o death metal na sua encarnação mais brutal já carrega a sua própria cruz desde o início: é limitadíssimo em termos criativos. Não há muito a fazer além de riffar, javardar, deixar tudo de pantanas e repetir, alternando apenas entre velocidade estonteante e um bem preciso slam. Nos últimos anos deram-lhe um twist: o de sci-fi. Quando as bandas de brutal/slam death metal se voltaram para cenários apocalípticos, monstros com muitas patas a destruir cidades nas capas e títulos de músicas muito longos e complicados, então é que começou a aparecer disso ao pontapé e a saturação foi mais rápida e imediata ainda.

A primeira pessoa e a experiência mais pessoal não é sempre invocada para estes textos pseudo-objectivos, mas este escriba lá se chega à frente em representação de um grupo nostálgico de fãs desta barulheira que já tinham saudades de badalhoquice nisto. Quer tenham começado pelos Cock and Ball Torture ou outros quaisquer. Ainda pior pensar que essa nova vaga de bandas pareciam levar-se muito a sério. Há quem o faça muito bem, sem dúvida, e se calhar há alguma culpa a atribuir aos nossos Analepsy, quem ainda o faz melhor. Mas onde anda aquela diversão parva, nojenta e dos recônditos de uma imunda casa-de-banho pública, sempre cheia de riffs simples mas grosseirões? Parece que estão na posse de alguém a encher-se de hype, os Sanguisugabogg, que têm em “Homicidal Ecstasy” o seu segundo álbum e logo com uma editora das grandes.

E que álbum tão medonho! Isso no melhor dos sentidos. Evita-se a todo o custo a expressão “lufada de ar fresco,” porque aqui está tudo podre, morto e em decomposição há semanas. E não é propriamente original, pelo contrário, é adoração aos clássicos dos Mortician e dos Devourment, génios da criação desta javarda brutalidade. Os temas são simples – e directos, que poupam-nos as introduções e samples porno-goreíficas – e são um destilar de riffs grossos, uma bateria demoníaca e ruidosa com um eco de snare capaz de incomodar até o Lars Ulrich, e muita roncadeira e grunhos que quanto mais melódicos e presos nas nossas cabeças, mais assustam. É essa descarga de início ao fim e, mesmo que tenhamos tido imensas propostas boas deste género, fica aquela sensação de já fazer muito tempo desde que havia um destes. Talvez desde que os Putrid Pile ralaram tudo com o “Blood Fetish” ou desde que tínhamos que nos defender a dizer que sabíamos que o que os Amputated gravavam era muito estúpido. Permitam-nos ser estúpidos de vez em quando, também. “Homicidal Ecstasy” justifica o hype à volta da banda e descarrega, sem pausas ou travões, o que se precisa quando é para desligar o cérebro para o crânio que o envolve poder abanar à vontade. E cuidado com o que está à volta durante o riff inicial da “A Lesson in Savagery!

Músicas em destaque:

Face Ripped Off, A Lesson in Savagery, Narcissistic Incisions

És capaz de gostar também de:

Mortician, Jungle Rot, Lividity


sobre o autor

Christopher Monteiro

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