Como resposta a quem se tinha perguntado, há pouco tempo, o que era feito deste conjunto de doomsters Minhotos, chega o primeiro longa-duração, “Tormento.” Não era para menos, o EP “Bracara Angvstia” tinha-nos despertado bastante o interesse e já lá vão uns bons anos. Não deu para esquecer, fazia falta uma banda com um nome tão bizarro como Pé Roto a trazer-nos riffs.

Palavra-chave deste álbum, que podia ser o seu título alternativo. Riffs é o que os Pé Roto trazem em “Tormento.” São guitarras deveras atormentadas que aqui soam e que se chegam à frente para nos prender a atenção. É fórmula familiar, vêm com a lição bem estudada do doom clássico fumarento de um bem escurinho mundo musical pós-Sabbath, e da génese do sludge cavernoso e arrastado, com a pica de uns Sourvein ou Cough. Sem paragens, – não, “Máquina de Morte” não é um interlúdio, a sua curta duração engana, é mesmo o tema rápido do conjunto, que tem que haver sempre – é uma intervenção pertinente. Sem novidades, mas ainda não é do que mais abunde por cá e é um breve disco confiante de arranjar espaço, ombrear, e tomar o estandarte para representar este género.

É um disco simples, onde realmente os protagonistas são os riffs e aquela pureza e sujidade do sludge e do doom de raíz, sem chegar àquela tormenta – no pun intended, mais ou menos – do pós-metal. Mesmo que sejam meninos para gostar bastante dos Neurosis, sim. Mas também se destaca a intimidante voz, a opção pela língua portuguesa para os temas, a sova de baixo que abre “Sangue,” a colérica “A Besta” e toda a “Mordaça,” que até seria acessível, não fossem as camadas de negrume e fumo sobre ela. É nome curioso, mas convém que se comece a ver em mais cartazes pelo país fora e não só. E que a espera pelo próximo seja bem mais curta que a que tivemos por este.