Birds Are Indie

Ones & Zeros
2023 | Lux Records | Indie, Pop

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Ao sexto disco de Birds Are Indie, Joana Corker, Ricardo Jerónimo e Henrique Toscano constroem um álbum assumidamente conceptual onde exploram, sem medos, novas temáticas e novas sonoridades.

A distopia, a inteligência artificial e a alienação são o ponto de partida de um disco que, como o código binário que o inspirou, é também ele feito de contrastes, de sombras e de clarões, revelando um novo capítulo da banda que contabiliza já 12 anos de trabalho profícuo.

No novo longa duração, a banda de Coimbra, sem perder a essência pop, faz co-habitar audazes guitarras distorcidas, caixas de ritmos dançantes, sintetizadores de calor analógico, bateria e baixo pujantes, assim como letras urgentes cantadas com tons a condizer. As histórias essas, carregadinhas da ironia – agora mais acutilante – a que os Birds habituaram, são as de personagens presas entre mundos, divididas nas suas vontades, cujos percursos levam a uma reflexão sobre os equilíbrios possíveis na relação com a tecnologia.

#1 Empty screen

Esta foi das últimas músicas a ser compostas e, talvez por nessa altura já termos uma noção mais completa do álbum, desde logo ficou a ideia de que deveria ser a primeira. E assim pensámos porque é uma música que tem uma cadência com uma certa urgência e um ritmo algo contagiante. Gostámos disso para começar. E o verso “who’s here and who’s not?” pareceu-nos a dúvida ideal para começar este disco. No conceito do álbum, este é um salto no vazio, literalmente o ponto de partida de alguém que não sabe para onde vai…

#2 One last book into the fire

Por uma questão de conceito, todas as letras do álbum foram previamente escritas, ainda sem noção de que ritmos e melodias lhes dariam corpo. A parte musical foi feita em conjunto pelos três, na sala de ensaios. No caso desta, o Jerónimo disse que a letra pedia uma canção rock. Por isso, o Henrique criou o ‘riff’ inicial e daí partimos para o resultado final. Neste segundo capítulo, a personagem olha para trás, mas sem saber como aprender com os erros.

#3 Living in the trenches

Antes de começar a compor as novas canções, comprámos um pequeno sintetizador, uma caixa de ritmos e um baixo. Fizemo-lo para nos desafiarmos enquanto músicos, para introduzir novos sons e para recebermos estímulos destes instrumentos quando estivéssemos a compor neles. Esta música é um bom exemplo de um tema que não teria surgido sem estas ferramentas. A letra, apesar de no refrão poder parecer bélica, foi escrita antes de começar a guerra na Ucrânia e, na verdade, não fala de guerra, mas antes do ímpeto da personagem em arregaçar as mangas.

#4 So many ways

Tal como a faixa anterior, e de forma ainda mais evidente nesta, a “drum machine” foi decisiva. Estávamos ainda a aprender a configurá-la e apareceu este ritmo “disco sound”. O Jerónimo na guitarra e a Joana na voz começaram a tentar fazer algo com aquela base rítmica. Passado um bocado o Henrique disse: “Mas vamos mesmo fazer uma música ‘disco’?… Mas lá se convenceu com a resposta: “E porque não?…” A letra é uma espécie de ode irónica a todas as coisas que temos disponíveis, sem que tenhamos tempo (no relógio e na cabeça) para delas usufruir. E assim achámos que este era o ritmo ideal para acomodar esta sensação agridoce.

#5 No-show

Mantendo a lógica de abrir as portas a estilos que nunca tivéssemos experimentado e de nos deixarmos influenciar por outras sonoridades que gostamos, este foi mais um caso. Drum machine, baixo vincado e muito delay na guitarra levou-nos a piscar o olho ao “dub”. Quisemos dar a esta música um ambiente algo misterioso ou mesmo fantasmagórico, porque a letra parte da ideia de sentimentos cambiantes, que ora vêm, ora vão, aparecendo e desaparecendo, como fantasmas. E depois flutua na ambivalência entre querer ser um fantasma e querer deixar de sê-lo.

#6 The rabbit hole

Esta foi a única faixa que fizemos praticamente toda no estúdio, durante as sessões de gravação. A meio do disco queríamos ter uma música que marcasse uma viragem no percurso das personagens que o habitam. Por isso, depois de canções cujas perspectivas navegam por diversos sentimentos (incerteza, raiva, ambição, desalento), cai-se num “rabbit hole”, à boa maneira da Alice no País da Maravilhas. E no meio de uma queda num mundo onírico, em que se tenta (re)configurar corpo e alma, nada mais estranho do que começar a dançar, como pede a música…

#7 It doesn't sound real

E através da estranheza de um afundar no desconhecido, entramos num mundo surreal e animalesco. A letra pedia uma música tensa, ora em crescendo, ora em contenção. E não nos saía da cabeça a imagem de uma figura disforme, a vaguear pelo deserto e pela selva, por isso adicionámos uns solos quentes e muita percussão com diversos tambores que havia no estúdio da Blue House. Tudo isto para tentarmos sincronizar “the memory of two hearts beating the same beat”.

#8 21st Century heroes

Depois da surrealidade, quisemos logo gerar o contraste com uma espécie de choque de realidade. Aqui, depois de passar por muito e de deixar de ter noção de quem é, a personagem realmente percebe o que a rodeia, tem uma espécie de epifania, mas possivelmente demasiado tarde… É neste refrão que surge o “ones and zeros” que dá nome ao disco.

#9 Same time, same place

Percebendo que está encurralada e que caiu na armadilha, já não consegue escapar. E, desta vez, a letra é na perspectiva de quem tem a personagem em cativeiro, numa espécie de hipnose dominadora. Com o sintetizador, o ritmo enleante da drum machine a ligar-se a uma linha de guitarra e muitas modulações de delay, tentámos criar um ambiente algo claustrofóbico, denso, mas com picos de explosão sonora.

#10 Behind the sun

Também cedo definimos que esta seria a última canção do alinhamento. Após tantos sobressaltos, tantos sentimentos cruzados, tantos gritos, tanta distorção, queríamos acabar com uma espécie de abraço humano, após se acordar de um pesadelo distópico. Não é um típico final feliz, pelo contrário, é até bastante melancólico, mas também é algo apaziguador. O som é o mais orgânico do disco e a doçura que pretendíamos só poderia ser entregue pela voz da Joana.

#11 A way to think it over [faixa bónus da edição física em CD e vinil]

Como recompensa para quem queira ter o disco físico, adicionámos este extra, disponível apenas através de um código que está no interior das embalagens. A letra é uma reflexão sobre a vida e sobre as pequenas coisas que não conseguimos deixar para trás. Como é uma visão quase externa ao álbum, como quem esteve a assistir a tudo de fora, achámos que seria um bom complemento.

Próximos concertos:

26 Abril – Bragança – Teatro Municipal
27 Abril – Vila Real – Café Concerto Teatro Municipal
28 Abril – Porto – Maus Hábitos
05 Maio – Braga – RUM by Mavy
06 Maio – Coimbra – Salão Brazil
16 Maio – Valladolid (ES) – Asklepios (+ Ál Carmona Trío)
17 Maio – Madrid (ES) – El Intruso (+ Coffee & Wine)
18 Maio – Zaragoza (ES) – Sala Creedence
19 Maio – Sabiñánigo (ES) – Sala Corleone
23 Maio – Málaga (ES) – La Cochera Cabaret
13 Outubro – Portalegre – CAE
14 Outubro – Setúbal – Casa da Cultura


sobre o autor

Arte-Factos

A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)

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