Estes textinhos às vezes são muito repetitivos, ou por preguiça e falta de jeito do escriba ou porque realmente há situações semelhantes. Fica sempre a sensação de que, a falar de registos nacionais, de estilos completamente diferentes, vimos para aqui dizer que dito género “está a atravessar uma óptima fase.” Mas é mesmo. Ainda estamos a repetir – ainda não a digerir, a repetir – uma fantástica obra dos Malignea e vem “Cerberus” que, felizmente, é muito diferente, lá terá aquelas linhinhas que os unem. Então está numa boa fase ou não? Será que é a música pesada nacional no geral, a aproveitar uma nova catadupa e um regresso aos palcos? Estamos muito receptivos a isso!

E comemoramos com mais um disco que se destacará na vertente melódica da música pesada. O terceiro longa-duração dos Enchantya, um dos nomes mais omnipresentes da secção gótica e sinfónica do peso. Estilo saturado a nível mundial e que não chegou a ter aquela fartura por cá. Podia ser o que dificultaria os Enchantya. Não se nota. “Cerberus” é um disco confiante. Para cada refrão adocicado, excesso de camadas sinfónicas, há um peso bem puxado em algumas malhas como “Lunar Fire” ou “United We Stand” e uma criatividade composicional para tornar a experiência memorável. Podemos enumerar as suas características, o que veste, e falamos de sintetizadores, voz operática, duetos “bela e o monstro” e uma abertura a influência oriental e parece só que estamos a enumerar os clichés do costume.

E é, praticamente. Mas é onde os Enchantya sucedem. Fazer “o costume” mas com o cunho próprio. Não desatar a inventar à procura da originalidade, numa de “isto ainda não foi feito,” a sujeitar-se a levar com a seca resposta de “terá sido por alguma razão.” Os Enchantya têm as suas referências bem estudadas e executam tudo de forma insigne. São veteranos e provam-no. Com boas malhas e o devido aproveitamento do vozeirão que é o de Rute Fevereiro, incontornável núcleo nesta jornada musical. Tomem “Alone” como cartão-de-visita, lembrem-se das bandas antigas que já ouviram a fazer isto e perguntem o que é que os Enchantya lhes deverão, em alguma coisa.