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As saudades da década de 90 por vezes é tanta que até já aceitamos qualquer recriaçãozinha aguada e de rigor discutível como suficiente. Mesmo a nível artístico, muitos dos que a viveram e até a tornaram importante já não sabem como o fazer sem parecer apenas um pedido de ajuda para lá voltar. E depois há malta como os Therapy? que, ao décimo-sexto álbum, após quase 35 anos de carreira, parece que ainda nem saíram de lá. E isso sem pretensiosismo, que ainda é o mais difícil.
“Hard Cold Fire,” o novo disco, é terapêutico. Para todos. É para um mundo pós-pandémico mas ainda virado de pernas para o ar. Em que saímos de uma encrenca para entrar noutra e parece que nem sabemos o que sentir, se alívio, se tristeza, ou raiva, desespero, até mesmo uma alegria inconsciente de quem quer aproveitar o tempo que cá anda. Para os Therapy? isso não é problema. Eles sempre tiveram disso tudo junto. O mesmo rock alternativo musculado – já tiveram o rótulo “metal alternativo” quando isso ainda meio queria dizer alguma coisa – está cá, com refrães gordos e uns riffs poderosos a envergonhar muita malta que achava que andava aí a recriar o grunge. Se tudo o que os tornou importantíssimos na década de 90 se mantiver intacto, tudo bem. A escrita de canções também tem que estar aí, então.
“Hard Cold Fire” é extremamente simples. E isso é um tremendo elogio aqui. Sempre foi a essência dos Therapy?, a de aceitar como missão apenas criar malhas e nada mais. Bem que dispensam quaisquer prefixos ou sufixos no seu rock, quando pode ser só isso. Filhos do noise rock que encontraram um aliado na melodia, que não têm medo do hino. E a consciência de que os clássicos como “Troublegum,” “Infernal Love” e até mesmo o mais tardio “High Anxiety” já estão feitos. Mas a atitude é a mesma. Refrão simples mas a entranhar-se, logo a abrir, em “They Shoot the Terrible Master,” enquanto vão passeando riffs grunge como o de “Joy,” metalizados como os de “Two Wounded Animals” ou “To Disappear,” este a lembrar os tempos em que alguém teve a necessidade de criar o termo sludge para se referir a riffs sujos e pesadões, ou experimentais e fritos como o de “Ugly.” E um esgar punk ao longo de toda esta curta descarga, mais juvenil em “Poundland of Hope and Glory.” Também é um vencedor nisso da duração. É uma dose contida, que nos permite ficar a querer mais. E com certeza absoluta que queremos.
They Shoot the Terrible Master, Joy, Ugly
Life of Agony, Melvins, Tomahawk