Godflesh

Purge
2023 | Avalanche Recordings | Metal industrial

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O mundo já foi afectado pelos Godflesh, o peso esmagador com que nos surpreenderam há três décadas atrás deixou uma influência inegável. Dá para abrandar as coisas e não serem tão assíduos, mesmo que a omnipresença do multifacetado Justin Broadrick ainda se note com múltiplos projectos, e deixar os discos novos respirar um pouco, agora que é muito difícil igualar aqueles clássicos. Não havendo essa necessidade de recriar o passado, um título como “Purge” pode ser perigoso para um novo álbum.

Não é por acaso. “Purge” tem mesmo uma ligação ao clássico “Pure,” já datado de 1992. Seja um sucessor, um novo ponto de vista trinta anos depois, há uma ligação entre esta novidade e o grande segundo álbum do influente colectivo. Induz em erro. Não devem ser feitas ligações entre qualquer disco pós-reunião e os clássicos. Mesmo que “Purge” aponte em todas aquelas direcções para onde vamos quando procuramos Godflesh: as batidas de hip hop embebidas em peso de guitarras de distorção única, por exemplo. “Nero” entra a fazer-nos lembrar “Songs of Love and Hate” num bom sentido. Mais bons sinais no riff de “Land Lord” e até há uma electrónica mais à Portishead em “Lazarus Leper.” Os bons sinais que precisávamos. Que os Godflesh estão em boa forma.

Não é o “Pure” e até esmorece ao longo da sua duração, tendo os seus principais destaques na sua primeira metade. Brilha com a sua habitual repetição, tendo também aí alguns dos seus gostos adquiridos, como a repetição constante de uma sample a dizer “check it out” em “Army of Non.” Tira partido da sua escuridão habitual e alia-se à recente abertura de Broadrick, em relação ao seu autismo, para ser um dos seus discos mais pessoais e até emocionais. A produção limpa muita da imundice que acrescentava ao peso dos velhos tempos, mas não impede as guitarras de nos arrastarem e moer o cérebro como deve ser. Portanto o melhor a fazer é mesmo deixar de lado qualquer ligação com o passado, além da óbvia, e tomar “Purge” como uma representação do que são os Godflesh em 2023. E por aí ainda está tudo óptimo.

Músicas em destaque:

Nero, Army of Non, Lazarus Leper

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Jesu, Killing Joke, Scorn


sobre o autor

Christopher Monteiro

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