Swans

The Beggar
2023 | Young God Records | Rock experimental, Drone, Pós-rock

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Não estamos naqueles dias de consumir algo de entrada fácil. Nem sempre são dias para Ramones. Existem os Swans para realmente nos dar a volta à cabeça. Sabe muito bem mas é na hora de cumprir este pseudo-dever das apreciações críticas que a coisa fica chata. Como raio se descreve este “The Beggar” ou, já agora, praticamente qualquer coisa editada pelos Swans? Como podemos entender verdadeiramente o que vai na cabeça do excêntrico Michael Gira?

O que vale é que até nos dá uma certa liberdade para sermos pretensiosos. Como uma procura de explicar as extravagâncias de um projecto tão único. “The Beggar” segue a vertente de “Leaving Meaning” mas aprofundando ainda mais a estranheza. Não com salganhadas de coisas, o caminho fácil de muitos. Mais minimalismo. Mais repetição. Mais ambiente claustrofóbico. Mais arrasto. E um ainda maior pessimismo – ou será só um vulnerável receio? – de um Gira a olhar para a sua própria velhice e mortalidade. Desde sempre foi difícil caracterizar a música dos Swans. Mudaram o jogo desde o início e até é cómico olhar para algo como o “Love of Life” como o seu mais acessível. Foi com “Soundtracks to the Blind” que se pode dizer que tenham mudado o jogo de mudar o jogo. Quando se tornaram sinónimos do experimental, desafiante e de longas obras intrigantes. Olhando por aí, há muita familiaridade em “The Beggar.” Mas não deixa de ser uma viagem nova, muito bizarra.

Para já, a viagem é feita num espaço pequeno e apertado. Parece que estamos confinados ao subconsciente de Gira e não é um sítio muito agradável. “The Parasite” e “Paradise Is Mine” lá trazem as melodias mínimas em repetição constante para nos agarrar. Trocam o ruído pelo acústico. A dar-nos a ilusão de agradável, não fossem faixas como “Michael Is Done” ou “Why Can’t I Have What I Want Any Time That I Want?” o desconforto puro. Musicalmente, até embeleza tudo um pouco em “No More of This,” mesmo com o seu desesperado e desesperante conteúdo e tem ocasiões que até nos deixa respirar algo mais simples, que conheçamos, como o pós-punk/deathrock presente na faixa-título. Há um folk e country contido a acompanhar-nos sempre, como se os seus Angels of Light também estivessem no mesmo espaço, mas enjaulados a um canto, a suplicar para fazer parte da experiência. Depois claro que há uma “The Beggar Lover (Three)” impossível de ignorar. No alto dos seus 44 minutos, a duração de um disco só numa faixa, onde realmente se passa tanta coisa que dava para o seu próprio texto crítico. Mas pronto, resumindo, há para lá spoken word, rock, jazz, drone, uma banda sonora cinemática, ambiente de igreja, até uns gritos arrepiantes que não sabemos bem de onde vêm. Vale a pena experimentar tudo isso. Como é costume com os Swans. Como algo tão pouco recomendável a qualquer um continua a ser tão recomendável. E como os Swans ainda conseguem surpreender, obrigar-nos a repetir depois de nos deixarem exaustos e a deixar-nos a pensar a eterna pergunta com que brincam sempre: será este o último?

Músicas em destaque:

No More of This, Why Can’t I Have What I Want Any Time That I Want?, The Beggar Lover (Three)

És capaz de gostar também de:

Swans a partir do “Soundtracks for the Blind”


sobre o autor

Christopher Monteiro

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