Besta

Terra em Desapego
2023 | Lifeforce Records | Deathgrind, Death metal

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Só para ter a certeza, já arrumaram o chiqueiro todo que “Eterno Rancor” causou há quatro anos, certo? Já colaram os cacos e varreram o irremediável? É só porque a Besta está de volta e não parece vir menos violenta. Diferente? Com certeza. Então uma das maiores representantes do grindcore português tem um álbum… Com todas as músicas acima dos 5 minutos? Sacrilégio! É “Terra em Desapego” e devemos estar mesmo nos fins!

Ou se calhar sabem exactamente o que estão a fazer. Isto de rebentar tudo e escarrar vinte faixas em menos de dez minutos já entra no estereótipo do grindcore, os próprios campeões já souberam ir além disso, ou não tivéssemos todos os Napalm Death e os Carcass entre os favoritos, em qualquer das fases. Os Pig Destroyer também não têm umas bem longas excursões pelo sludge que até se revelaram jeitosas? Então para quê duvidar dos Besta, se eles já demonstraram que não sabem fazer outra coisa senão malhas. Se calhar faz tempo de deixar de falar tanto de outras bandas, quando tudo o que está aqui é Besta a ser Besta. Podemos usar mais uma referência, em tom positivo, sugerindo que “Terra em Desapego” seja o seu “Harmony Corruption,” mas só por também ter corrido lindamente e por deixar o death metal controlar tão bem este lodoso lago de grind.

Paulo Rui grita que se farta, que já sabemos bem que é essa uma das suas artes, mas em “Terra em Desapego” também gritam os riffs. Protagonistas e tremendos. O que engrossa o death metal logo numa “Olhar Seráfico” e que até nem tem medo da parte mais técnica como em “Veias em Catarse,” onde há algo de Decapitated mais contidos, com agressividade de uns Misery Index, sem vergonha de abraçar completamente a enorme influência dos Death. Também há bastante thrash, que os vossos thrasheiros favoritos mais moribundos devem andar a tentar sacar de algo como a “Patologia Profunda” ou “Sector Parasita,” mas já não têm pedalada. E se aqueles violentos tremolos ou a catarse apocalíptica de “A Colónia dos Mentirosos” até já sugerem black metal, até pode não ser caso para tanto mas confirmam-nos uma outra coisa: “Terra em Desapego” é variado. E riquíssimo. Em riffs e em tudo. E aquela conclusão cinemática da “Transmissão Semântica” ainda é outra coisa qualquer. Para quem tinha medo das mutações, quando se trata de uma Besta, é para ficar mais medonha e monstruosa ainda. E já se podem dissipar as dúvidas ao olhar para as durações das canções e achar que isto ia ser mais contido, cuidado e até suavezinho. Pois, vão lá buscar a vassoura outra vez que afinal já está tudo novamente de pantanas. Ou melhor, deixem estar para já, que isto ainda tem muito para rodar.

Músicas em destaque:

Olhar Seráfico, Veias em Catarse, A Colónia dos Mentirosos

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Carcass, Death, Napalm Death


sobre o autor

Christopher Monteiro

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