Bizarra Locomotiva

Volutabro
2023 | Rastilho Records | Metal industrial

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A máquina não para, não consegue. Mas deixa-nos à espera, trabalha-nos a ânsia, deixa-nos em pulgas… Para finalmente nos mexer novamente com os nervos, mas agora com a envolvência do negrume erótico-monstruoso-poético-negro da sua música. Já encarámos a nossa própria mortalidade no “Mortuário” e agora os Bizarra Locomotiva querem mergulhar-nos no lodo, numa enevoada pocilga, num “Volutabro.”

Com boas e promissoras notícias. De que este seria o disco com a sua maior amplitude musical e, quiçá, o seu registo mais criativo. Quando vem de uma das bandas mais únicas e singulares no seu espectro. Que existam referências aqui, que a sensualidade depravada dos Nine Inch Nails da década de 90 se sinta, que exista aqui e ali um bom riff que dê para um desenfreado till hammering, que existam ambientes dignos de uns Godflesh, e que se sinta ainda como uma submersão ou mutação de uns Mão Morta no seu estado mais negro, isso limita sempre. Ainda renegam tudo, renegam mais que tudo. São a sua própria referência e somos convidados a entrar naquela mente de Rui Sidónio, cada vez mais raivoso na voz. Saímos de lá num estranho estado febril, a recuperar ar após termos submergido em nem sabemos bem o quê. O tal lodaçal, não sabemos o que o constitui, mas é muita coisa. E o monstro que ruge e nos afugenta no fecho da faixa-título até nos pode escorraçar, mas como a doença já nem tem cura, voltamos lá novamente.

Porque afinal está cheio de beleza, isto. E nem é preciso o hábito ou uma adaptação da vista ao escuro, já está na forma como logo a seguir à introdução, temos um hat-trick de luxo de enormes hinos orelhudos. Para juntar ao repertório já vasto disso. Com um industrial no ponto, tão capaz de carregar no peso, como de contribuir para um ambiente mais soturno mas calmo, centra a acção em Alpha, com quem Rui Sidónio partilha a centralidade e núcleo da máquina. De musicalidade exímia, aposta mesmo na variedade, no destaque que cada canção tem por si só, no peso, nas melodias, nas múltiplas emoções que nos provoca, treinando-nos numa oscilação entre êxtase, raiva, contemplação, medo e haja alegria também. Que seja “o costume,” é mesmo mais um grande disco dos Bizarra Locomotiva, mais uma prova de que não são um dos grandes nomes nacionais só porque é giro e curioso, é mesmo por já ser uma instituição e ter a capacidade de se superar a cada disco e nos fazer pensar que é desta, está aqui o pico, este não ultrapassam. Mais um petardo, mais uma reflexão sobre nós próprios, o nosso monstro interno, até a nossa depravação e a nossa vulnerabilidade. “Volutabro” deixa-nos assim. De pulsos cortados… À espera que nos venham resgatar…

Músicas em destaque:

Volúpia, Virtudes Piroclásticas, Vulnerável Prostituto

És capaz de gostar também de:

Nine Inch Nails, Mão Morta, Mécanosphère


sobre o autor

Christopher Monteiro

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