Steven Wilson

The Harmony Codex
2023 | VMG, Spinefarm Records | Rock progressivo, Art pop, Electrónica

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Por questões de ética e por semi-objectividade, – este tipo de textos não deve ser assim tão baseado nisso como outros – vamos sempre manter a nossa apreciação por Steven Wilson ali naquela linha tramada entre a genialidade e o pretensiosismo. Deixamos que balance para um lado e para o outro, que se desequilibre e até aprendemos que essas coisas até nem têm que ser mutuamente exclusivas. É uma boa forma de se encarar Wilson. É uma boa postura para a recepção de “The Harmony Codex.

Que volta a trocar-nos as voltas. Steven Wilson continua focado na electrónica, sim, mas esqueçam a borga toda de “The Future Bites.” Serviu como uma espécie de lavagem, onde Wilson depositou todas as suas ideias pop. Sobra então a profundidade do que pode fazer com a electrónica, seja música ambiente, batidas trip hop, um pouco de glitch, algum beat mais malvado ou outro. Mas para um efeito bem mais atmosférico e envolvente, a deixar o seu inato e inevitável talento para o progressivo submergir nisso tudo. E depois brinca connosco e com as nossas percepções, a iludir-nos com um aparente minimalismo de “Inclination” a não preparar para cada vez que entre banda inteira e soe verdadeiramente enorme. É muita ideia diferente que cabe em “The Harmony Codex” e as audições repetidas são mesmo um requisito. Felizmente deixa vontade para isso.

Com tanta coisa, o desafio seria evitar a salganhada. Por entre uma electrónica mais macia e dreamy e os devaneios prog setentistas do costume, ainda existe um acenar aos Porcupine Tree com uma “What Life Brings”de melodias à Tears for Fears pós-reunião – e fica a ponte feita, já que Roland Orzabal é um de um montão de nomes convidados que participa num disco extra anexado a este, o “Harmonic Distortion” – e guitarras mais à Pink Floyd, e ainda mais uma “Impossible Tightrope” que volta a iludir-nos com a sua introdução antes de apresentar um caos psicadélico e jazzístico, como se a “21st Century Schizoid Man” dos King Crimson renascesse hoje em dia e quisesse fazer parte da música moderna. E ainda cabe pop, influência oriental, rockalhada com força, minimalismo quasi-clássico, melancolia de orgulhar uns Anathema, – “Rock Bottom” – e sinistra soturnidade, como em “Actual Brutal Facts,” com uma melodia vocal a fazer lembrar, talvez demasiado, a “Motherfucker” dos Faith No More. Assim parece que não evitou a salganhada. Quando, na verdade, é capaz de ser mais coeso que os seus dois anteriores discos. Claro que o fantasma do pretensiosismo paira e uiva sempre. Sentimos que Wilson não queria só fazer música, queria uma obra de arte. Cinema para os ouvidos. Foi o que ele lhe chamou. Mas deixemos esse “8 ou 80,” que pode não nos deixar ver que “The Harmony Codex” é um muito bom disco, que não deixa de ter uma escorregadela aqui e ali. Aquela tal linha do início. É saudável.

Músicas em destaque:

What Life Brings, Impossible Tightrope, Rock Bottom

És capaz de gostar também de:

Porcupine Tree, Blackfield, No-Man


sobre o autor

Christopher Monteiro

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