Myrkur

Spine
2023 | Relapse Records | Blackgaze, Darkwave, Dark folk

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Dizer que “Spine” é um álbum polarizador até causa daqueles resfôlegos de riso. Porque é essa a essência de Myrkur, desde que o projecto apareceu e aparentemente necessitou de apresentar algum comprovativo que validasse o seu direito de estar no black metal ou de, pelo menos, recorrer ao dito género para moldar o seu estilo. Puristas bacocos fintados e respeito conquistado, parece que temos mais um álbum a dividir equipas.

O tal intocável black metal já tinha sido remoldado, reduzido e até completamente retirado quando muitos se apaixonaram pela folk envolvente de “Folkesange,” a banda sonora que precisávamos para aquele final de Março de 2020. “Spine” é uma mistura de muita coisa mas não vem lá com aquelas tretas do “é um pouco de tudo o que fez até agora.” É mesmo mais um passo. Paralelo a uma nova etapa na vida de Amalie Bruun, a verdadeira Sra. Myrkur: a maternidade. Se o assunto não dá para que todos os ouvintes se identifiquem, a musicalidade, as dóceis melodias, a atmosfera soturna mas com muito positivismo – podemos considerá-la outonal até – já são coisas que todos consigam desfrutar. Mesmo que seja desafiante.

A primeira impressão é que vai voltar a assentar-se no folk e é realmente a sua primeira camada. Ou os seus alicerces, consideremos assim. A electrónica levar-nos-ia directos a um bem doce synthpop mas contém-se ali no bosque, deixa-se escurecer e humedecer um pouquinho e é um “ethereal wave” que dá a mão ao folk para ser o chão de todo este disco. Estamos perdidos na bela melodia de “Like Humans,” a aceitá-la como uma boa canção pop com as supracitadas roupagens. Logo mal questionamos se o black metal ficou novamente em casa, lá entra um blastbeat. E “Spine” vai tendo destas surpresas. O tremolo de “Mothlike” também corta e está descoberta uma fórmula imprevisível para que “Spine” seja uma viagem entusiasmante e de emoções mistas. Talvez a parte que se equipare à maternidade. É isso que divide o público mas por aqui afirma-se que resulta. Podia ser tudo uma data de retalhos colados com cuspe mas, na verdade, são grandes canções. Até a curta duração do álbum é inteligente, como quem queria ver primeiro como ficava e agora decide se explora mais ou não. Fica um álbum único já a ver se nos força a chamá-lo de “pós-qualquer coisa.” Pós-melindre, que pode muito bem ficar-se desapontado com este álbum, não dá é para negar os talentos de Amalie como cantautora ou multi-instrumentista.

Músicas em destaque:

Like Humans, Mothlike, Blazing Sky

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sobre o autor

Christopher Monteiro

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