Dwarves

Concept Album
2023 | Greedy Media | Punk rock

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O que é que ainda nos choca hoje em dia? Já vimos de tudo, as próprias rádios já não conseguem ter muito tento sobre a linguagem e conceitos dos êxitos de hoje em dia e atitudes e posturas mais excêntricas são mais propícias a bocejos. Falamos da história do black metal com um sorriso nos lábios e já muita gente conhece os Cannibal Corpse sem parecer afectada por isso. É, fora algum grupo religioso mais sensível impressionado com alguma popstar vestida de vermelho ou algum devaneio pornográfico do Till Lindemann, é caso para dizer que o shock value esteja morto. Até para os Dwarves, vejam lá!

Uma das mais selvagens bandas de todo o punk, apenas com um G.G. Allin acima deles no que diz respeito ao perigo nos concertos, também já causaram o asco e o terror com os seus discos. Já lá vão os tempos da rápida, imediata e barulhenta badalhoquice de “Blood, Guts & Pussy” – que clássico! – e do tal shock value também, e não foi com o irónico “Get Clean,” foi mesmo com o tempo. Acontece que não foi só isso que aconteceu para chegarmos aqui, há mesmo uma jornada musical ao longo das décadas de carreira dos Dwarves. E agora chega “Concept Album,” um álbum conceptual sobre… Não sabemos bem qual é o conceito. Mas se calhar é esse, a tal jornada musical, com tanto que aqui engloba. Ou então só estão a gozar connosco, que é o costume. Mas o raio do “Concept Album” parece colocar a musicalidade à frente. Valha-nos o sacrilégio, desde quando é que há disso nos Dwarves? Pronto, reiteremos: está à frente, logo a seguir ao humor. E de vez em quando lá voltamos a ouvir o Nick Oliveri aos berros. Agora sim é Dwarves.

De variadas formas. Muitos se calhar têm saudades do hardcore punk de garagem dos primórdios e torcem o nariz ao pop punk de skater que começaram a abordar depois. Mesmo criando mais alguns clássicos com essa faceta, pode ser visto como sinal de amolecimento. Pois, em “Concept Album” há punk do mais selvagem em “Voodoo,” “Kill or Be Killed,” ou “Come Unglued” e do pop punk mais alegre e aparentemente positivo em “You Lose We Win,” “Parasite” ou “We Will Dare,” permitindo-se ficar mais dançável e perigosamente upbeat na hilariante “Feeling Great,” ou em “Roxette.” A coisa também se permite ficar metalizada com a extremamente catchyDo It All the Time,” “Lean,” um interlúdio que vai buscar aquele riff doomster sabe-se lá onde, ou na thrasheiraAin’t Playing.” Ainda há sleaze em “Sixteen,” bom gosto em “Stabbed My Dad” e parece que há canções de amor, dentro dos possíveis, como “All for You.” Rica viagem musical à la Dwarves, dá mesmo para ser um álbum conceptual sem ser sobre a origem da máscara de luchador do infame nudista HeWhoCannotBeNamed. É uma surpresa perante qualquer baixa expectativa causada pelo recente repertório dos Dwarves: interessante, orelhudo e divertido. É que até aquelas obras mais javardas ouvimos por razões semelhantes!

Músicas em destaque:

Feeling Great, Do It All the Time, Kill or Be Killed

És capaz de gostar também de:

The Meatmen, Frenzal Rhomb, The Turbo A.C.’s


sobre o autor

Christopher Monteiro

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