Está tudo certo, já temos mais uma colaboração dos The Body, com alguém que também não goste de fazer música da mais convencional, para termos uma nova banda sonora para os nossos pesadelos. Este chama-se “Orchards of a Futile Heaven” e conta com uma ascendente e ainda pouco conhecida Dis Fig a fundir diversos tipos de experimentalismos. E ruídos de nos fazer olhar por cima do ombro para certificar que realmente estamos sozinhos e não há ali alguma criatura medonha a espiar-nos.

De novo envolvendo tudo de um tenebroso noise, até a parte metálica dos The Body – à qual eles já perceberam que realmente não precisam sempre de recorrer – parece ser torturada e arrastada. Um tratamento ao death industrial que, misturado com a voz de Felicia Chen, a DJ e produtora que assina aqui com o nome Dis Fig, atira-nos para o escuro de outra dimensão. O pior é que a voz de Chen até acaba por ter o seu tom calmo e angelical. Pior ainda. Isso no meio do restante basqueiro só torna tudo mais inquietante. Quem é que quer entrar numa casa assombrada e deparar-se com coisas bonitas, delicadas e celestiais? Claro que a coisa só vai ficar mais bizarra ainda.

A porção The Body traz coisas que já lhes conhecemos: aquela guinchadeira desenfreada de Chip King tem que vir fazer dueto com Chen, para aquele efeito único; Lee Buford sempre gostou de brincar com a parte mais ruidosa do industrial. E traz ares daquele power electronics que nos lembra o quanto gostamos da Lingua Ignota e da Pharmakon sem soar propriamente parecido. E para um disco de noise é muito sofisticado. E também tem um aroma de drone metal no ar, como se de algum irmão bastardo e deformado dos Khanate se tratasse. Mas pouco disto soa a metal. Mas soa a mais uma grande experiência dos The Body, que não facilita a ingrata tarefa de o descrever ao mais desprevenido. É conhecer de antemão ou então avisar-lhe que aqui até a distorção é distorcida e o resto… Seja o que Deus quiser, válido para crentes e não só. De preferência apaguem as luzes antes. E boa sorte.