Pela altura em que a estreia dos Vltimas chegou aqui às nossas páginas, até brincámos com os currículos dos seus ilustres integrantes, questionando se um álbum daquela qualidade seria um pedido de desculpas pelos percalços que foram o “Illud Divinum Insanus” dos Morbid Angel e o “The Unspoken King” dos Cryptopsy. O supergrupo, que já não deve ser considerado apenas isso, já tem um épico segundo álbum – foi intencional, sim – que realmente já não tem qualquer coisa pela qual pedir desculpa.

Está à vontade para pegar do ponto onde ficou “Something Wicked Marches In.” Um death metal muito próprio, aberto a outras influências, onde se encontram várias excentricidades sem cair para o lado do progressivo. Podem culpar o trabalho de guitarra e os riffs do já-quase-português Rune Eriksen, aka Blasphemer, que também não deve qualquer pedido de desculpas pelo “Grand Declaration of War” dos seus antigos Mayhem, porque o mundo tem que aceitar que esse disco é excelente. O resto da atenção vai para a voz de David Vincent que é capaz de se ter superado em teatralidade, que se sobrepõe a qualquer gutural, para dar uma personalidade própria a este “Epic.”

Há um esforço conjunto desses factores diferenciais, do que cada um traz da sua banda – no seu core, os Vltimas serão uma banda de death metal, mas o black metal nos riffs é inevitável e o resvalo para as atmosferas de uns Behemoth não são difíceis de atingir – para definir a identidade dos Vltimas e realmente convencer que são uma banda a sério e não apenas um supergrupo com uns tipos de umas bandas conhecidas, só a dar uns “toques.” E há malhas, como o belíssimo riff Kashmir-esco e diabólico de “Mephisto Manifesto” e a espreitadela dos Morbid Angel à qual também não dava para fugir, em “Invictus.” Tudo com uma grandiosidade que faz com que “Epic” não seja apenas um título giro. Uma “prova do segundo álbum” passada com facilidade, uma obra negra, mesmo preferindo regularmente o melódico ao brutal e um enriquecimento dos repertórios de três músicos que já não têm alguma coisa a provar. Se até os erros já os cometeram antes.