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E ao terceiro e último dia da edição de 2024 do Primavera Sound Porto e quando as previsões meteorológicas nada previam, abateu-se a chuva sobre o recinto durante os primeiros concertos. Não que isso tenha demovido os convivas, que puxaram dos impermeáveis e se foram distribuindo pelos vários palcos, hoje já sem os fenómenos de enchentes do “novo normal”, mas com nomes clássicos (e mais do ADN do festival, diga-se) para encher os dois maiores palcos do certame, sem esquecer propostas relevantes noutros palcos – e um funeral.
A caminho do palco Vodafone para ver a violência dos norte-americanos Gel ouvia-se, ali ao lado no palco Plenitude, Porque Nada Tem Um Fim, dos “nossos” Expresso Transatlântico, cujas melodias trouxeram algum optimismo para enfrentar o dilúvio (que, ainda assim, longe ficou dos registados noutros anos, como no último dia de 2018, no primeiro de 2019 e, sobretudo, nos dois primeiros dias da edição de 2023) – de água e de concertos.
Gel – Palco Vodafone
Luzes, raiva, acção para ver Gel, banda de hardcore de Nova Jérsia num palco Vodafone já operacional (e com um teste de peso neste mesmo concerto) depois da inactividade do dia anterior. Raiva do que emanava do palco e, sobretudo, a uma chuva inconstante mas de pingos grossos chatíssimos, como que a desafiar a paciência e a puxar ao soco no ar. E não havia mesmo melhor maneira de afastar a frustração do que andar aos pulos com o ‘core.
Se as más-línguas dirão que Gel é hardcore para zoomers, tal não se reflecte na plateia, que tem de tudo um pouco: mais novos, mais velhos, cosplayers de qualquer coisa, curiosos e gajos a escrever (oi) e a filmar e a tirar fotografias. Para uma banda que foi presença inesperada no festival, em boa hora vieram fazer-nos companhia com um arreio de porrada logo desde Out of Mind.
Ataques duplos de guitarras e quebras rítmicas sujas mas de gosto refinado (por isto entenda-se não entrarem os Gel nos domínios insuportáveis da powerviolence) como Honed Blade e Mental Static propulsionaram Gel para um dos bons concertos desta edição do Primavera Sound Porto. Mais uma banda a colocar na categoria “a voltar noutras condições”.
Para além de o recinto estar transformado numa piscina à conta da micção dos Deuses, eis a primeira piscina do dia para ver Expresso Transatlântico no palco Plenitude, muito inconvenientemente enfiados num paralelo horário com Gel.
Expresso Transatlântico – Palco Plenitude
Desengane-se quem acha que o bailarico saloio acabou com esta transição de bandas, de palcos e de estilos. Autores daquele que foi (para este escriba) o melhor álbum nacional de 2023 e ciclones de palco, entregavam-se, em formato sexteto e apropriadamente dada a intempérie, a uma versão e tanto de Barquinha (uma teria dado jeito para atravessar parte do recinto, fazendo-se a piada fácil), só faltando Conan Osiris (que assegura as vozes em estúdio) para compor o ramalhete.
Para muitos, o concerto terá sido uma enigmática e enérgica introdução ao som dos Expresso Transatlântico, em especial para os elementos estrangeiros da plateia, que olhavam com curiosidade para a guitarra portuguesa e se entregavam ao pé de dança. Com um grande álbum no saco (e um EP em que já se antevia grandeza), o entrosamento é evidente e o festão inevitável: Beco da Malha e o seu frenesim delirante final ainda devem estar a ressoar nas mentes (e nos ouvidos) de quem a testemunhou.
Atirando-se de faca (e flor) nos dentes a Alfama, Texas, deixaram tudo em palco numa torrente vertiginosa entre os Dead Combo e Calexico, entre Clint Eastwood e Carlos Paredes e entre banda e público, quando Gaspar Varela, após largar as guitarras e ir dar uma mãozinha na bateria, se atira ao crowd surf, naquele que é já um momento clássico da banda – e tratando-se de uma canção que ameaça tornar-se numa das melhores malhas de fecho de concertos de uma banda nacional.
À terceira vez que vimos Expresso Transatlântico já é tempo de dizer: é sempre um prazer.
Tivessem os Expresso Transatlântico um cancioneiro maior e a festa bem poderia ter continuado, porque banda e público eram merecedores disso. Rumo traçado para o palco Porto, porque estava na hora de um dos nossos destaques, Mannequin Pussy.
Mannequin Pussy – Palco Porto
Pelo que têm feito desde que abriram actividade em 2010, Mannequin Pussy mereciam destaque natural nesta edição do Primavera Sound Porto. Mereciam também serem maiores num palco pequeno com proximidade com o público, que é também dessa convivência que bandas como esta vivem.
Com todo o pêlo na venta típico de Filadélfia, a banda de Missy Dabice (que nos saúda como “criaturas lindas”), Kaleen Reading, Colins Regisford e Maxine Steen saca um trunfo shoegaze apunkalhado chamado Sometimes, que nos absorve e põe a mexer até aos acordes finais. Por um lado é batota, que a coisa fica ganha logo ali; por outro o que é bom é para ser mostrado.
Nem tudo é aguerrido e sisudo, que logo à terceira canção, Emotional High (obviamente malhão), Dabice avisa que só têm mais uma “canção fofinha” para tocar. E que havia que gritar “PUSSY” (rapazes incluídos) num grito vindo das profundezas da alma. A rapaziada do Paddy’s Pub mandaria igual bojarda, cremos.
A passivo-agressividade de Loud Bark deu num momento dos mais bonitos do festival, pelo menos para quem gosta de barulho. Um boudoir de shoegaze e de gritaria, domínio absoluto pelo volume e pelos jogos corais e de guitarras da banda. Misto de Bikini Kill (que cá deveriam ter vindo, até porque ainda no ano passado houve um concerto soberbo de Le Tigre) e Hole (sem a cavalaria nem a toxicidade de Courtney Love), Mannequin Pussy é também a banda dos parentes musculados ianques de Dry Cleaning.
Sendo uma banda de opiniões vincadas (em especial as de Missy Dabice) e ainda que o proselitismo de artistas careça de análise casuística, a invectiva gritada de Dabice contra a opressão das grilhetas religiosas (quaisquer que sejam) sobre a liberdade de identidade caiu bem no público e faz todo o sentido. E quando se é livre pode muito bem ter-se o Céu nas mãos; neste caso, foi ter-se direito a uma enorme I Got Heaven.
Houve mesmo intervenção celestial, que a chuva pura e simplesmente parou. Foi mais um dos vários milagres de Mannequin Pussy e seu abençoado barulho.
Roga-se pragas a mais um horário sobreposto ao mesmo tempo que se atira foguetes porque a chuva parou e faz-se mais uma piscina até ao outro lado do recinto para apanhar um pouco do concerto de Joanna Sternberg.
Joanna Sternberg – Palco Super Bock
Depois de mais uma travessia Parque da Cidade fora, ainda fomos a tempo de apanhar algumas canções de Joanna Sternberg, cantautora folk nova-iorquina. Não precisou de muito para captar a atenção da plateia e dar a conhecer o seu imaginário, como se aquele palco e zona circundante se tivessem transformado no jardim onde Sternberg nos conta as suas histórias – as boas e as más.
Não é fácil evitar a comparação artística de Sternberg com Daniel Johnston (pela crueza e despojo do material), mas tal torna-se impossível quando se ouve uma irresistível I Will Be With You (retirada de I’ve Got Me, disco de 2023 produzido por Matt Sweeney dos Chavez), dedicada devotadamente a Shane MacGowan, que Sternberg imagina que estará a cantá-la no Céu. Toda uma pureza de espírito e simplicidade melódica num timbre que por vezes nos lembra o de Karen Dalton, mesmo quando toca uma canção sobre a dor terrível provocada por outrem (The Song), com uma simplicidade e uma candura impressionantes.
Joanna Sternberg teve ainda tempo para se declarar uma diva por ter agora um tour manager, despedindo-se entusiasticamente e com genuína felicidade por ter simplesmente tocado umas quantas canções para nós. São assim os puros.
Após este breve momento com Joanna Sternberg, percorre-se umas dezenas de metros para o lado até ao palco Vodafone, que era hora das exéquias de Steve Albini, precisamente onde deu o seu último concerto na versão nacional do Primavera Sound – e em solo português.
Shellac listening party (ou o funeral de Steve Albini)
Aqui se chegou ao momento menos aguardado do Primavera Sound Porto de sempre, o da festa (porra, qual?) de audição do novo álbum de Shellac, To All Trains. Problema: a banda não estaria ali para tocar, como sempre fez enquanto bandão residente do festival, porque Steve Albini, mestre dos mestres, já não está entre nós.
Aquele que era sempre um nome grande do festival (sem precisar de estar a letras maiores no cartaz) não mais ali actuará. Não só o desaparecimento de Steve Albini significa o fim dos Shellac, como o cartaz perde parte do seu interesse. E se se quer maior prova de que a vida é extremamente injusta, a morte tinha de acontecer num ano em que a banda de Chicago lançou um álbum novo, o aludido To All Trains, cuja capa a preto de branco quase que remete para a partida para outras paragens e a saída de um palco maior, o da vida.
O consolo possível? Várias das canções do disco terem sido tocadas ao vivo ao longo dos últimos anos, incluindo no ano passado.
Dito isto, impunha-se um outro brilho àquilo que correspondeu a uma cerimónia, a um funeral tácito. Colocar simplesmente nos ecrãs laterais que se tratava da “Shellac listening party” quando há todo um acervo de vídeo e fotografia de Albini no Primavera Sound Porto soube a pouco, muito pouco. Com as devidas adaptações e como pequena homenagem, para aqui transcrevemos o que ficou escrito num post pessoal nas redes sociais no dia da morte de Steve Albini.
“Um dos maiores dos maiores desta vida. Um gajo com toque de Midas em tudo o que envolvesse noise e guitarras e um exemplo de como ser relevante até ao fim (prematuro) da vida, incluindo manter um bandão. Pensador e construtor da ética das estruturas ditas alternativas, gozão e zelota gigante (depois mais recatado e a colocar em perspectiva os excessos de há décadas), campeoníssimo de póquer, um gajo fixe para trocar umas palavras depois dos concertos e um dos melhores engenheiros de som de sempre (poucos havia que gravassem melhor o som de uma bateria do que ele) – vão conferir se os vossos discos preferidos não têm a sua marca.
O pior de tudo isto? Acabar a melhor tradição do Primavera Sound Porto: a de passar vergonh-, a da galhofa nas grades com os amigos nos concertos de Shellac. A reunião anual de amigos para a porrada e para os pulos, o berreiro absurdo em castelhano de pacotilha (“ARDILLAS DE VERDAD!”), o aviãozinho à Ronaldo Fenómeno na Wingwalker, a piada de mandar umas bojardas categóricas para a banda responder e o ritual de testemunhar os malhões ano após ano.
Talvez alguém venha a substituir Shellac no futuro (ou talvez não), mas por ora é perda irreparável, até porque desde a primeira vez na ZDB em 2010 até à última no Primavera em 2023 foram onze sessões de magnífica jarda. Contudo, não fiquemos tristes (nem surdos) porque acabou, fiquemos contentes porque o noise aconteceu, até porque daqui a nove dias há essa prenda de despedida (mais uma para se agradecer) que é um disco novo de Shellac, dez anos depois do Dude Incredible. Muitos grandes morreram de pé; este gigante morreu no estúdio, a magicar coisas novas. As we come to the close of our broadcast day, foi-se o Mestre e o avião deixou de ser a metáfora para as nossas vidas, mas o “BIG-ASS VICIOUS NOISE THAT MAKES MY HEAD SPIN” ficará. Is this thing on?”
Pausa para forrar o estômago e hidratar a máquina, que ainda faltava algum tempo até ao começo do maior concerto do dia, o dos Pulp – também ele com uma colisão de horários hedionda, desta feita com Billy Woods. Como seria de esperar, a actuação da banda inglesa foi merecedora de texto próprio.
Saímos do antigo palco principal para o actual na mesma onda: de um concerto de rock alternativo para adultos para outro da mesma laia. Reencontro com The National, velhos favoritos cá do tasco que ainda há pouco tempo cá estiveram a passear a classe do costume.
The National – Palco Porto
No bingo dos festivais grandes cá do rectângulo os The National acertaram em quase todos e, no caso do Primavera Sound Porto, já são repetentes, regressando dez anos depois da estreia. Se na altura estavam a mostrar um belíssimo álbum, Trouble Will Find Me (2013), desta feita trazem dois álbuns, First Two Pages of Frankenstein e Laugh Track (ambos de 2023), que foram, para quem escreve estas linhas, tiros ao lado que não chegaram sequer à menção honrosa na lista pessoal de fim de ano, não obstante Eucalyptus e New Order T-Shirt (ambas do primeiro) serem boas entradas no cancioneiro do grupo. Decadência da banda? Fim de ciclo? Mandem-nos mas é para o ecoponto? Alto e pára o baile, que ainda há grandiosidade quando Matt Berninger e os irmãos Dessner e Devendorf pisam um palco.
E como velhos amigos que são cá da gente (até porque vão lá quase duas décadas desde a primeira visita), os The National brindam-nos duplamente: primeiro com Slippery People dos Talking Heads no PA e depois pedal a fundo numa Sea of Love de urgência. Pessoalmente, não os víamos desde 2019 e, até ver, está tudo no sítio: os irmãos Dessner controlam a melodia (com uma pitada de barulho porque a sua veia exploratória distingue-os de tanta gente chata do indie), os Devendorf o ritmo e Kyle Resnick e Ben Lanz as teclas e os sopros, porque a banda de Cincinnati tem estatuto para se armar em Steely Dan do século XXI, atenta a sua veterania.
O único visto gold que alguma vez interessou e foi útil ao País continuou a lembrar-nos da sua importância. No material mais recente como Eucalyptus ainda há os refrões orelhudos (sem esquecer umas referências bem metidas a Cowboy Junkies e Afghan Whigs), ampliados pelo PA e, no da velha guarda, é-se presenteado com uma das melhores versões de Don’t Swallow the Cap que já nos calhou em sorte (tão boa que andámos a trautear a canção mentalmente no resto da noite) e assim de surra uma admirável Bloodbuzz Ohio. Ainda bem que há coisas que nunca mudam.
E pessoas, que Berninger continua igual a si próprio: parecendo um boémio residente do velho Hotel Chelsea, entrega-se ao público em várias canções (vide a foto que ilustra esta peça), relembra-nos a costela pró-Partido Democrata da banda (com recomendação de voto em Joe Biden, para o continente norte-americano presente, ainda que não tenhamos visto directamente este momento) e desfila a sua voz de barítono de veludo.
Também os elogios continuam lá, que Berninger pergunta-nos se sabemos quão bonito é o Porto (sabemos, pois). Despedimo-nos deles com I Need My Girl e Mistaken For Strangers, a canção que nos filiou como adeptos ferrenhos de The National.
Num império que é tudo menos falso nunca seremos confundidos com estranhos pelos The National.
Numa vituperiosa sobreposição de horário que doeu, abandonámos o palco Porto e rumámos ao outro lado do recinto até ao palco Super Bock, que estava o hidromel a ser distribuído pela rapaziada perita em xinadas no olho, o Conjunto Corona.
Conjunto Corona – Palco Super Bock
Multum in parvo. Não, não estamos a chamar parvos ao Conjunto Corona, primus inter pares do hip hop nacional. Estamos, outrossim, a sintetizar armados em eruditos o que é um concerto dos campeões locais: muita coisa boa em tão curto espaço de tempo. Os três cavaleiros da variante – DB, Logos (estes em modo Compton) e o Homem do Robe, personificação do conjunto – são os únicos gajos deste mundo que conseguem mandar jogo com chinelos e meias e andar aos saltos no palco e na plateia enquanto rebentam com a área toda naquele que consideraram ser o concerto mais regional de todos e que, para eles, mais parecia um café cheio de pessoas. De facto, de copo na mão muita gente ouviu os contos do Conjunto Corona como quem ouve grandes epopeias de tasco.
Porém, era toda a plateia de nacionalidade portuguesa? Nem por isso, que também havia estrangeiros, segundo uma sondagem “à urna da boca” (DB). Uma singela mensagem em forma de Pontapé nas Costas para estes, visto que “you have developed the city but you have fucked us”. Os camones não perceberam mesmo onde se foram meter.
Seja Mafiando Bairro Adentro ou a botar Fumo na Panela, os underdogs (palavras dos próprios, nesse combate desigual entre o Conjunto Corona e os “The Nationals”) foram abençoados pela Puta da Velha, sendo o Homem do Robe um Deus ex machina que plana pelo palco enquanto DB bota a batida e em conjunto com Logos dispara as rimas, as piadas e os cânticos de “Gondomar! Gondomar! Gondomar!”, seja a meio ou no fim da actuação.
Para além do Chico com a 6-35, passou-se em revista, nas projecções e nas dedicatórias, toda uma enciclopédia criminal do Norte: Vítor Macedo, o rei dos catalisadores, Vítor Catão, Fernando “Macaco” Madureira e, aqui divergindo a doutrina desportivo-penal, Jorge Nuno Pinto da Costa. Por falar em matança, pelo relógio do Conjunto Corona eram horas de matar o concerto com 187 no Bloco – e de puxar uma vez mais por Gondomar.
Paz no Primavera, paz no Porto, paz em Portugal, paz no Mundo e talvez em Gondomar. Homem do Robe, puta da velha e bruxo de Fafe rezem por nós.
Lá ao fundo, os “The Nationals” entregavam-se a uma das suas canções-bandeira, Fake Empire. E nós preparávamos o encerramento da nossa presença nesta edição aguardando pela actuação de Mandy, Indiana.
Mandy, Indiana – Palco Plenitude
Para fechar o festival, mais uma revelação: Mandy, Indiana. Tal como os Wolf Eyes na noite anterior, são banda para malta que usa óculos escuros à noite, que guarda a tralha no tote bag de editora do underground do underground do underground e que anota os álbuns da semana da Stereogum ou da Best New Music da Pitchfork (destaque de que foi alvo I’ve Seen a Way, de 2023). Uma montagem com o nome do projecto anglo-francês aparentada ao logótipo dos DVDs anda à solta pelo ecrã qual screen saver, deixando no ar suspeitas de que este pessoal é mais uma personificação da desconstrução sónica pós-contemporânea. Restava saber como se adaptaria o (excelente) material de estúdio ao palco.
A resposta é: como um xenomorph devora cérebros. Um concerto que foi uma panorâmica de toda a escola dos HEALTH, dos Model/Actriz e da Björk de Post, de repetição febril, de batidas ora irregulares, ora marciais, de baixos que chocalham os ossos e de efeitos cortantes (nos tímpanos, claro). Valentine Caulfield, vocalista que faz como Jarvis Cocker e usa o palco como um instrumento, profere/guincha palavras afogadas pelo noise e é uma Joker desta destruição em curso, possuída no meio da demência instrumental de Scott Fair, Alex Macdougall e Simon Catling.
Francamente, nesta altura do campeonato estávamos de queixo caído enquanto abanávamos as pilhas de oxigénio, carbono e hidrogénio a que chamamos corpo em Alien 3 e Bottle Episode, entre outras. O que tínhamos deles ouvido em disco era muito bom, mas isto é já território de outra liga. E para outro território foi Caulfield, trepando as grades e vindo apresentar para o meio do pit uma suposta canção nova, Magazine.
Como bons sacanas que são, deixaram para último um malhão e tanto novo (Magazine) para ficarmos com uma expectativa gigantesca para próximas edições e, sobretudo, actuações futuras. Que são extremamente necessárias, dê lá por onde der.
Isto não é uma revolta, isto é uma revolução.
Com isto se deu o término de mais uma edição do Primavera Sound Porto, não sem antes de, imediatamente após o concerto de Mandy, Indiana, haver quem ainda gritasse por Gondomar. Hora de uma última bifana da Conga, de uma tripa, da despedida dos amigos e de se começar a instalar a depressão pós-festival.
Correu bem, apesar de tudo. Venha a próxima.