Jack White

No Name
2024 | Third Man Records | Garage rock, Blues rock, Hard rock

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Há pretensiosismos e há aquelas coisas que até o podiam ser mas ganham outra dimensão dependendo do seu autor. O método de lançamento tão pouco usual de Jack White deste álbum sem título – ou intitulado “No Name,” a piada é essa – parece mesmo algo que só ele poderia ter feito. Incluir o disco, sem qualquer informação, com qualquer compra na sua Third Man Records, para o consumidor desprevenido levar um brinde para casa que é, assim só, um disco novo do Jack White.

Não é uma coisa muito Jack White de se fazer? Vindo dele, é pretensioso, ou característico e a forma mais rock ‘n’ roll de devolver alguma importância ao formato físico e um factor surpresa a algo hoje em dia tão aparentemente dispensável como a música? Chega numa altura assim de surpresas, quando os Smashing Pumpkins também lançam a sua obra quase sem avisar. Temos aí dois egos diferentes. E não consta que tenhamos tido vontade de dar tantos cachaços aqui ao White. Agora o disco-surpresa em si. Sobras da experiência dupla anterior? Nada disso. É aí que está a maior surpresa. Só podemos especular sobre a sensação que terá sido trazer um brinde da loja de discos, sem saber o que é, girá-lo e ter lá simplesmente o possível melhor álbum de Jack White a solo. Assim só, de forma muito simples. Porque está simples, sim, da rockalhada crua que o tornou famoso, que ele já não trabalhava com tanta intensidade desde que tocava acompanhado apenas pela ex-mulher. Com riffs deliciosos que lembram mesmo quando o estávamos a conhecer e ficávamos surpreendidos por saber que aquele barulho todo da “Dead Leaves and the Dirty Ground” e da “Fell in Love with a Girl” era todo feito por um só gajo.

Um revivalismo do garage rock altamente enérgico. De referência clássica como The Stooges ou MC5 – também há um punk desenfreado em “Bombing Out” e Led Zeppelin em “Underground” – mas também do revivalismo do início deste século, não só como The Strokes, mas resgatando outros nomes mais explosivos como The Vines, The Datsuns, The Hives, ou Death from Above 1979. Aí uns quantos nomes que já faz um tempo que alguém fale neles. Ah, e muito de White Stripes também, antes que esqueça. Revivalismo de revivalismo, de um artista que sempre trabalhou a partir da raíz mas recusou o termo retro. Teve os seus experimentalismos nos dois discos anteriores, sem se deixar engolir por excentricidades auto-indulgentes, e agora despe tudo e “oferece-nos” assim uma colecção de malhas, sem fillers, a dizer-nos de forma tão simples que o rock é isto. E “No Name” é o álbum de rock que precisávamos, e o canalha sabia-o.

Músicas em destaque:

Old Scratch Blues, Tonight (Was a Long Time Ago), Number One with a Bullet

És capaz de gostar também de:

The White Stripes, The Raconteurs, The Stooges


sobre o autor

Christopher Monteiro

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