//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Já se vai fazendo tempo que Pedro Serpa, o Alkimista que trata de tudo nesta “Viagem,” deixe de ser um segredo bem guardado. Que arranja um rico conceito para a tão portuguesa melancolia que se vai espalhar por toda esta viagem. Combina os cinco estados emocionais que atravessamos ao lidar com a perda – conceito atribuído ao anterior “Cinzas” – com o elemento “água” que não falta por cá, associado a algo que banha tanto do nosso país: o mar.
Com um metal gótico sem amarras que o prendam a esta abordagem ou àquela, fica prometida uma “Viagem” que se pode manifestar de imensas formas. Pode ser uma viagem pelo mar dentro, que tem aqui canções que nos embalam pelo mar calmo, como tem malhas que já representam um mar mais tempestuoso. Pode ser um belo acompanhante para uma caminhada à beira-mar, de preferência nocturna, que até vemos tudo à nossa volta de maneira diferente. Ou pode ser uma viagem temporal, ou daquelas que nem saímos do sítio. Mas “Viagem” vai levar-nos a algum lado, vai reforçar-nos ou impingir-nos um grande respeito pelo mar e vai deliciar-nos com um multi-facetado disco que recorre ao death doom – mais melódico do que funerário – para uma atmosfera que vai ao pesado e ao acústico, do mais folclórico – então afinal já estamos todos convencidos de que o nosso folclore casa bem com isto – ao mais hostil – como a bem agressiva “Um Quarto Sem Vista.”
Volta a salientar-se a variedade. É uma “Viagem” com muitas curvas. “Despedida” serve de introdução mas também já de canção, e andará pelas estruturas mais progressivas como a de “O Estranho em Mim,” – com poema e narração de David Soares, esse mesmo, senhor da palavra escrita e recitada – e total rendição às melodias como em “Cartas Pt. I,” um dos vários temas com voz de Rita Correia, uma voz dócil que nem fazia mal algum que a ouvíssemos mais vezes por aí. E como não voltar todas as vénias para Pedro Serpa, o Alkimista, que personifica e epitomiza a ideia de que quando se quer alguma coisa, mais vale fazê-la, estando ele a cargo de tudo, desde a capa à interpretação de todos os instrumentos, à produção e à distribuição. “Viagem” é um álbum quase demasiado bom para acreditarmos que tenha saído de uma pessoa só, mas há definitivamente uma alma a orientar este leme. Acompanhamos, receptivos ao que venha a seguir.
Cartas Pt. I, O Estranho em Mim, Coração de Âmbar
Paradise Lost, A Dream of Poe, Décembre Noir