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Como já foi dito no resumo deste último dia de Coura, quem esperou pela estreia dos Superchunk em solo nacional finalmente alcançou o desiderato. Estreia extremamente tardia (já não os vimos com Laura Ballance, baixista traída pelos ouvidos, nem com Jon Wurster, ex-Director de Pesquisas de Percussão, vítima do desgaste dos anos), nem por isso a banda Mac McCaughan, um dos maiores do rock dito alternativo, deixaria de ser um tufão sónico.
No nosso caso, descobrimos os Superchunk quando vimos, algures em meados da década de noventa, o videoclip de The First Part na MTV, provavelmente num programa como 120 Minutes. Faixa de forte cunho emocional, dado o fim da relação de Ballance e McCaughan em 1993, é parte integrante de Foolish, álbum editado há precisamente trinta anos e central na história do grupo – e na deste concerto.
Falando-se em edições, a influência da banda na música popular alternativa é dupla: a sua obra impeliu muita gente a pegar em guitarras e muita gente (como os Arcade Fire ou os Neutral Milk Hotel) editou trabalhos seus pela Merge, editora fundada por Mac McCaughan e Laura Ballance em 1989, ano também da fundação dos Superchunk.
Por tudo isto e depois de anos a vê-los em transmissões na Internet de festivais como Coachella (ou McCaughan a solo para umas vinte pessoas no MusicBox em 2015, mais uma demonstração da falta de gosto dos alternos indígenas), foi finalmente possível dar tudo ao som de Why Do You Have to Put a Date on Everything, Detroit Has a Skyline ou On the Floor.
McCaughan é, naturalmente, o soberano do palco. Com a sua emblemática voz de fedelho e uma energia inesgotável (saltou mais do que muita gente no festival inteiro), lança-nos acordes atrás de acordes numa prova que tanto teve de resistência como de velocidade. Por sua vez, a actual secção de ritmo cumpre com distinção (bater com força sem pregos e ter atenção às nuances em canções como Hello Hawk, nada mais é preciso), mas Jim Wilbur merece uma referência. De óculos na ponta do nariz e encarnando o pai de família que pega na guitarra no Natal para animar a malta (e que deveria dar uma rabecada aos “filhos” que não sabem que Coura não é no Porto), variou entre o ritmo e os solos na melhor dupla de guitarras do festival.
Alinhamento do concerto coerente com uma caminhada pela carreira que, não obstante a ênfase em Foolish, recuou até No Pocky for Kitty (1992), álbum gravado pelo saudoso Steve Albini (sempre em todo o lado, impressionante), tendo a escolha recaído em Seed Toss e a sua riffalhada e quebra fenomenais. E não seria, ainda assim, o regresso ao passado do grupo mais remoto da actuação.
Sem desprimor para os Fontaines D.C., para nós o festival podia ter acabado aqui mesmo. Metaforicamente não restava pedra sobre pedra e a lição de História foi aprendida com todo o gosto pelos presentes que decidiram ficar a ver a prelecção em vez de irem guardar lugar no concerto dos irlandeses. Os que ficaram são os que sabiam da poda.
À penúltima canção, um momento “full circle” para nós mal começou The First Part. Era a nossa vez de largar o “profissionalismo” e de esmurrar o ar e puxar pelas goelas. O teatro dos sonhos era ali mesmo à beira do Coura e não em Manchester.
Dito isto, parecia que o concerto estava a roçar a perfeição. E estava, no que ao material tocado diz respeito. O problema foi o do costume nestas primeiras vindas de grandes bandas: o de inevitavelmente faltar sempre qualquer coisa (onde andas, Precision Auto?), agravado pelo facto de o concerto ter começado mais tarde do que era suposto à conta da extensão do concerto dos The Jesus and Mary Chain. Gaita.
A frustração depois do anúncio de Mac McCaughan de que a próxima malha seria a última da noite durou apenas alguns segundos, porque vinha aí Slack Motherfucker, canção mais antiga da set list e de fecho por excelência dos concertos da banda e uma bruta pedrada para o apito final de um dos melhores (senão o melhor) concertos deste Vodafone Paredes de Coura 2024.
Parafraseando a letra de The First Part, cinquenta bons minutos de Superchunk vão durar-nos a vida inteira.
P.S. – Um obrigado a Mac McCaughan por nos ter ensinado, depois do seu concerto a solo no MusicBox em 2015, a técnica de usar as calças de ganga para abrir discos de vinil selados. Ainda hoje a usamos.