Pharmakon

Maggot Mass
2024 | Sacred Bones Records | Power electronics, Industrial, Dark ambient, Noise

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Noise e géneros parentes serão sempre aquele niche que temos no bolso para buscar a cada vez que encontrarmos aquela pobre alma que inocentemente diz que “gosta de tudo.” Incidentalmente, quase acabamos por tirar méritos ao próprio universo do noise e ao quão criativo consegue ser. Pharmakon, nome artístico adoptado pela excêntrica Margaret Chardiet, tomou conta do power electronics, do “death industrial,” ao que queiram chamar ao movimento em que se insere, trocando a controvérsia e provocação de outros actos lendários como os Whitehouse, pela esquisitice e por uma perturbação bem mais emocional do que assente no “shock value.

E resultou lindamente. “Abandon,” de 2013, tornou-se um clássico do power electronics e de todo o noise. Juntamente com as suas enérgicas actuações ao vivo, cimentou a jovem Pharmakon como uma promessa nisto da cacofonia com significado e profundidade e até podemos colocá-la como cabeça do “takeover” feminino que se deu nesse estilo de música e que lhe fez tão bem. Um grande álbum que iniciou um trajecto, sem pontos baixos, que chega agora a “Maggot Mass.” Que quase promete mudança àquele de olhar atento ao detalhe. Rompeu a sequência alfabética no título do disco, ao não iniciar este registo por “E.” Uma futilidade, com certeza. Mas já deixou muitos de pulga atrás da orelha, devia vir aí alguma mudança radical. Nem por isso. Continua no tão perturbador caminho dos anteriores. Talvez um pouco mais despido aos básicos da tortura sonora.

Há um certo modo “throwback” também, natural quando se faz o tal retorno à base. Podemos ter encontrado em “Splendid Isolation” uma prima directa da “Crawling on Bruised Knees” da clássica estreia. Mas pode estar mais básico ainda, nas bases do dark ambient, do monótono intencional, que prefere dar-nos pancadas no interior da cabeça até nos submetermos. Um minimalismo que só torna os temas mais intrigantes ainda, um síndrome de Estocolmo ao qual nos rendemos voluntariamente. Na linha da frente, por cima de todo o ruído, aquela berraria infernal. Lá há momentos em que até temos que nos certificar que não anda por aí o doido do Alan Dubin. Não, já devemos saber que a Margaret também tem uma goela demoníaca. Contudo, no meio dessa familiaridade, de minimalismo e de algo aparentemente mais ortodoxo dentro de música tão experimental, também cabem surpresas como uma ainda maior submissão ao drone – e agora temos mesmo que ir repescar a referência, sente-se muito de Khanate em “Oiled Animals” – e com Margaret a cantar aquilo que será do seu mais limpo e melódico. Até ficamos com mais medo ainda. “Maggot Mass” é contido nas surpresas mas continua um extraordinário percurso discográfico de uma artista singular. E deixa-nos muito mal vistos quando tentamos explicar a alguém dito normal que é possível a sensação de conforto em ser enterrado vivo. Mas é uma boa maneira de descrever este álbum…

Músicas em destaque:

Wither and Warp, Splendid Isolation, Oiled Animals

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sobre o autor

Christopher Monteiro

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