MC5

Heavy Lifting
2024 | earMUSIC | Hard rock

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Contem-nos. 53 anos. O tempo de distância entre esta surpresa, “Heavy Lifting,” e o disco anterior. E nós que já ficámos pasmados com alguns regressos passados vinte anos. E aqui os MC5 regressaram aos discos após mais de cinco décadas. Contem os discos também. Com este são três álbuns de estúdio, já que temos que ter em conta que a mítica estreia é ao vivo. Quatro álbuns nesse longo período, pronto. Inexplicável.

Até se torna difícil arranjar um escriba capaz de situar mesmo isto de modo a fazer-lhe justiça. Quem de nós realmente viveu, com genica, as duas vidas dos MC5? Nem os próprios sobreviveram: começou a ser trabalhado em 2023, com os originais Wayne Kramer e Dennis Thompson que, entretanto, já faleceram antes de ver o disco nas lojas – e nas plataformas, coisa inexistente e impensável nos tempos de qualquer disco antecessor. Ficou um trabalho póstumo enquanto todos ainda processam a ideia de música nova dos MC5 em 2024. E está aí. Que não seja alguma coisa por aí além, não invalida a loucura da situação. É um hard rock clássico, sim, com tanta edge quanto um “dad rock” permita. Até porque já nunca conseguiriam o mesmo impacto de quando o também já finado Rob Tyner anunciou que era “time to kick out the jams, motherfuckers” noutros tempos. Mais vale umas malhas de rock maduro – não vamos dizer velho, mesmo que não tivesse uma aplicação depreciativa – e está feito.

Nada do que fizessem faria jus ao legado subvalorizado que realmente têm. A supracitada frase que causou tanta polémica juntou a essa atitude uma ruidosa malha à frente do seu tempo e que os cataloga hoje em dia como dos maiores nomes do “protopunk.” Mas isso foi há 55 anos atrás. Já não há barreiras a derrubar agora. E mesmo que exista garra neste hard rock, – há alguma base para comparar com algo dos recentes trabalhos dos Deep Purple, outros velhotes – não é que Wayne Kramer tenha regressado de um esconderijo para as fazer. Já tinha uma carreira a solo, portanto até se procura justificação para o nome MC5 aqui. Encontra-se facilmente. Uma despedida. De alguém de quem já nos tínhamos despedido há imenso tempo – muitos de nós nem nascemos a tempo de o fazer. Com malhas boas. Malhas menos boas. Alguns restos de irreverência que ainda fossem possíveis. Duas faixas a fechar em má nota, diga-se, quando tentam modernizar-se minimamente, e algumas letras fracas como a de “Because of Your Car.” E um apelo para os redescobrir. Eram bem mais edgy do que isto nos seus tempos. “Heavy Lifting” faz o que o título indica, a meio gás, mas com um hard rock de bigodaça e uma surpresa que já deslumbra mais do que qualquer resultado musical que aqui estivesse.

Músicas em destaque:

Heavy Lifting, Barbarians at the Gate, The Edge of the Switchblade

És capaz de gostar também de:

Deep Purple, UFO, Phil Campbell and the Bastard Sons


sobre o autor

Christopher Monteiro

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