Os Ligados às Máquinas são, provavelmente, a primeira orquestra de samples composta por músicos em cadeiras de rodas do mundo. Nascidos há uma década no seio da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra, lançam hoje, dia 6 de dezembro, pela Omnichord Records, o seu impressionante disco de estreia, “Amor Dimensional“.

Cruzando diferentes géneros musicais e explorando novas fronteiras criativas, os Ligados às Máquinas têm desenvolvido, com o musicoterapeuta Paulo Jacob, ferramentas e metodologias de trabalho inovadoras e promotoras da plena participação artística.

O processo criativo dos Ligados às Máquinas sempre se destacou pelo uso, adaptação e criação de soluções de hardware e software que permitem aos integrantes – músicos com alterações neuromotoras – ter controlo e autonomia para disparar samples em tempo real em dispositivos adaptados.

Este disco é resultado de uma década de trabalho e amadurecimento de um processo coletivo que começou a explorar o universo sonoro familiar dos seus elementos para depois conseguir explorar, interpretar e compor algo realmente novo e seu a partir da novidade e do desconhecido que lhes foi apresentado por mais de 30 artistas nacionais.

São nove temas originais, que desenham um dia na vida de cada um: do amanhecer ao acordar, da procrastinação à tensão, da obrigatoriedade à liberdade de escolha limitada, da melancolia confortável à refeição aconchegante até ao merecido descanso (enriquecido pela possibilidade de sonhar).

Os Ligados Às Máquinas são Andreia Matos, Dora Martins, Fátima Pinho, Hélia Maia, Jorge Arromba, José Morgado, Luís Capela, Mariana Brás, Paulo Jacob, Pedro Falcão e Sérgio Felício.

Foi a nossa primeira composição para o disco Amor Dimensional. Temos excelentes memórias da primeira vez que a tocámos ao vivo… foi no festival Nascentes (Aldeia das Fontes – Leiria), onde o público interagiu connosco de uma forma bastante bela e peculiar: foram distribuídos cerca de setenta “pássaros de água” que, ao nosso sinal, foram tocados pela plateia, enquanto se ouvia a canção de embalar da Selma Uamusse (para o seu bebé) complementada por outro embalo… o da voz do Salvador Sobral em parceria com o violino e a electrónica de Samuel Martins Coelho.

É um dos temas favoritos do grupo e que nos diz bastante. A sua batida faz-nos explorar o diálogo entre os acordes de piano dos First Breath After Coma com a voz celestial de Joana Gama, os rasgos Beethovenianos da Orquestra Gulbenkian (maestro Lawrence Foster) complementados pela sensibilidade Tchaikovskiana (maestrina Joana Carneiro) e a altercação de palavras entre Ana Deus e Senhor Vulcão.

Uma injecção de adrenalina musical, onde a batida no adufe dos Retimbrar é corrompida pelos glissandos da viola d’arco de José Valente. Fica, também, a mensagem do Senhor Vulcão: Ama mais!… e mexe-te, se queres ser alguém!

Um tema misterioso que sai do diálogo de Salvador Sobral com as guitarras dos irmãos Santos (Mano a Mano). Este tema tenta fazer passar a mensagem de inquietação, ansiedade e stress a que todos estamos sujeitos.

É uma música que aborda as questões da relação entre a Humanidade e as Máquinas, aqui vistas como opressoras. No nosso caso, as máquinas são libertadoras!

Juntamos todos os ingredientes nesta “cantina” onde a única coisa que tens de fazer é : escolher o prato de carne ou peixe? Uma alusão às possibilidades de escolha em momentos de indecisão. Este tema ainda não foi apresentado ao vivo.

Depois de uma bela refeição (de carne ou peixe, fica ao vosso critério), segue este tema que nos faz reflectir sobre a vida. Um momento de contemplação e beleza envolto em música clássica, electrónica, trovões e vozes que sobem e descem.

Esta receita da Sopa à Lavrador foi adulterada pelo colectivo musical… substituímos a couve lombarda, a massa, o feijão, as batatas e a carne por ritmos e sonoridades ecléticas que nos reconfortam o estômago e a alma.

Porque valorizamos o acto de dormir e de sonhar, fizemos este tema para nos despedirmos e encerrarmos o Amor Dimensional e dizermos o quão importante é almejar.