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Foxcatcher
Título Português: Foxcatcher | Ano: 2014 | Duração: 129m | Género: Biografia, Drama
País: EUA | Realizador: Bennett Miller | Elenco: Steve Carell, Channing Tatum, Mark Ruffalo

“Foxcatcher” é o mais recente filme de Bennett Miller, realizador do thriller “Capote” (2005) e do aclamado “Moneyball” (2011), que consolida assim a sua predilecção e estatuto de contador de histórias verídicas. É protagonizado por Channing Tatum e Mark Ruffalo no papel de Mark e David Schultz, respectivamente, uma dupla olímpica e irmãos, e por Steve Carell (John du Pont), herdeiro de uma família bilionária, cujo único grande feito é precisamente esse: ter nascido num meio privilegiado, que vive do estatuto herdado.

Em 1984, os irmãos Schultz vivem glórias olímpicas, ambos medalhados com ouro na modalidade de Luta Livre, mas o quotidiano pouco muda e Mark leva uma vida frágil e solitária, enquanto que David de dedica à sua família. John du Pont rápida e facilmente atrai Mark para a sua residência, na qual existe um complexo desportivo que lhe serve para os treinos, integrando-o numa equipa com outros atletas. A fragilidade de Mark cede ante o manipulador John, transformando-se o papel de patrocinador e mentor numa relação de desgaste e pressão. Eventualmente, David junta-se à Team Foxcatcher equilibrando a relação de posse e devolvendo foco a Mark, que consegue emergir e libertar-se do abismo em que se afundara. A parceria acaba por não resistir à instabilidade emocional do delirante du Pont que, como sabemos, acaba por assassinar David Schultz.

Um pouco por toda a imprensa especializada, o realizador Bennett Miller e o elenco têm vindo a ser aclamados pelo fruto do seu trabalho conjunto. “Foxcatcher” é referido até como um potencial candidato aos principais Óscares. Porém, trata-se de um filme que fica muito aquém da expectativa. Contar uma história verídica nunca é fácil, pois restringe a liberdade artística e criativa, mas Miller não me conseguiu agarrar, mantendo-se sempre num registo morno e apático, até no desfecho da narrativa, quando se dá um assassínio a sangue frio.
Paralelamente, Steve Carell é amplamente elogiado pela sua actuação, uma performance of a lifetime, lê-se por aí. Porém, considero a escolha deste actor a maior barreira do filme: fortemente caracterizado e exibindo traquejos específicos de quem interpreta, a cada instante fica a sensação de que vai soltar uma gargalhada pateta ou lançar a punchline. Uma falhada tentativa de transição da comédia para o drama.

Quanto à interpretação dos irmãos Schultz pouco há a salientar. A popularidade de Channing Tatum em Hollywood permanece um dos grandes mistérios do nosso tempo, não evidenciando quaisquer motivos para tanto alarido, revelando-se apenas um actor limitado e banal. Já Mark Ruffalo mantém-se igual a si próprio, um dos intérpretes contemporâneos mais aprazíveis, que ostenta na perfeição o caracter apaziguador e conciliador do atleta que encarna.

Foi uma pena o primeiro filme a que assisti em 2015 revelar-se tamanha desilusão. Felizmente, daqui em diante, só pode melhorar.


sobre o autor

Isabel Leirós

"Oh, there is thunder in our hearts" (Ver mais artigos)

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