//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
A paixão pelo cinema foi-me passada pelos meus pais e o cinema sempre fez parte dos rituais em família: sinónimo dum serão bem passado. War Dogs foi a escolha do meu irmão de 20 anos e acho que estávamos todos um pouco cépticos em relação ao que o filme teria para oferecer. «Bem, é com o Bradley Cooper, por isso sempre tenho cinco minutos de deleite» – pensei eu, como qualquer cinéfila de olhos gulosos. War Dogs revelou-se muito mais divertido e interessante do que qualquer carinha laroca que por lá passe.
O filme acompanha a história de dois amigos com os seus 20 e tais que vivem em Miami. Durante o decorrer da Guerra do Iraque eles exploram uma iniciativa do Governo Americano que permite que pequenas empresas possam licitar em contratos militares do Governo Americano. Começando com pequenos quantias, o negócio torna-se cada vez maior até chegarem a um contrato de 300 milhões de dólares que se poderá revelar demasiado para uma companhia daquela dimensão. É baseado na história verídica de David Packouz e Efraim Diveroli.
Dirigido por Todd Philips, que conhecemos de comédias como The Hangover, Project X, Starsky & Hutch ou Due Date, sendo que muitos destes títulos foram também produzidos e co-escritos pelo realizador, War Dogs tem de imediato alguma expectativa a cumprir, mas – como quem não sabe é como quem não vê – esta foi uma daquelas raras ocasiões em que fui ao cinema sem ter qualquer informação prévia sobre o filme e revelou-se uma surpresa muito agradável. À semelhança do trabalho anterior, Philips não desilude, porque os seus filmes são sempre ritmados e embalados com gargalhadas no momento certo. War Dogs vai mais longe ainda devido à montagem que é original e refrescante! A divisão do filme em citações está muito divertida e a maneira como a música acompanha as imagens é soberba, dando-nos alguns dos momentos mais hilariantes do filme. As bandas-sonoras são, aliás, um dos meus elementos de cinema preferidos pela força que imprimem às imagens e pela maneira como perpetuam algumas das cenas cinematográficas na memória de quem as vê.
Outro ponto alto do filme é o piscar de olho – ou os piscares de olho – a essa obra-prima que é Scarface, sem dúvida uma referência para qualquer apaixonado de cinema, sobretudo para quem trabalhar na indústria de armamento e viver em Miami. A cena final no elevador é incrível e o mérito desta genialidade divide-se entre actores e argumento. Jonah Hill está brilhante, como tem vindo a estar em todos os seus trabalhos, nomeadamente em The Wolf Of Wall Street, em que foi – merecidamente – nomeado para o Óscar de Melhor Actor Secundário. Hill interpreta Diveroli que nos dá alguns dos momentos mais divertidos do filme. Miles Teller tem o papel de Packouz que é também o narrador que nos acompanha ao longo da história. Teller teve uma bela interpretação em Whiplash e parece-me que será um dos grandes do futuro. Acho que ainda o vamos ver a ganhar um Óscar. Espante-se quem estiver a pensar na filmografia do actor, comédias como Get A Job, Two Night Stand, 21 & Over ou Project X ou filmes de entretenimento/fantasia como Divergent ou Fantastic Four, mas eu reconheço-lhe um talento que acho que ainda nos vai deixar boquiabertos.
Num momento em que o mundo atravessa uma fase de instabilidade e desunião, um filme como War Dogs é particularmente especial e bem-vindo. Parece que a história se repete ad eternum, sem que a Humanidade aprenda e repetindo até à exaustão um modelo económico gasto e elitista que – na sua essência – serve muito poucos. As guerras não passam de interesses económicos em que peões jogam dum lado e doutro, como se fosse um filme de acção de Hollywood. War Dogs traz uma luz a esta questão, relembrando-nos das sociedades em que vivemos e do quanto ainda temos por caminhar, sem, no entanto, sair do registo da comédia, o que o torna um filme perfeitamente enquadrado na estação.
Inesperadamente, War Dogs revelou-se um dos títulos do Verão, deixando no ar a mensagem de que os peões somos todos nós. God Bless Dick Cheney’s America, dizem eles.