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“What was the last thing you’ve done that mattered? A loaded question but does any of it hold any weight?”
Os irmãos Matthewson até andaram no conservatório e tudo, mas do que eles gostam mesmo mesmo é de rebolar no lamaçal do sludge, medir virilidades mathcore no concurso “o meu riff é mais bruto que o teu” e de dar uma de mestres da ironia nos títulos e letras das suas músicas.
Não são os primeiros nem hão-de ser os últimos a narrar o drama da sociedade moderna e da sua fatídica maratona rumo ao vazio. No entanto, impõe-se destacar os viscerais KEN Mode como estando entre os mais respeitáveis castigadores de instrumentos, prontos a atormentar a vida a tudo quanto é yuppie à saída do escritório de consultadoria e a caminho do Holmes Place.
Em 2013, Entrench apresentava-se robusto; mostrava-nos uma banda decidida que aprendera a dar espaço à voz sem sacrificar o ímpeto e rudeza do seu som. Uma banda que não se limitava a dar-nos uma valente tareia em “Your Heartwarming Story Makes Me Sick”, depois de já nos ter deslocado o maxilar à riffalhada em “No- I’m In Control”, como ainda dava provas de ambição e maturidade num registo mais atípico em “Romeo Must Never Know”.
À primeira vista até pode parecer que os KEN Mode nunca saíram da adolescência, e em vez de começarem a pensar mantiveram aquele moralismo vesgo que aparentam prescrever, mas afirmá-lo seria completamente falacioso. A narrativa KEN Mode assenta numa grande comédia negra; um teatro dentro do teatro, e nem os próprios se safam de serem parodiados.
Depois de cascarem na religião organizada em Venerable, de 2011, retratando-a como um grande esquema de marketing, com o novo disco os KEN Mode carregam no fuzz e debruçam-se sobre outro colosso formatador das massas: o afamado “sucesso”.
Success é o empregado de escritório, com o seu barbeado impecável e camisa imaculadamente passada a ferro, que um dia manda o ecrã do computador contra a vidraça do aquário onde trabalha – não sem antes mandar um e-mail a todos os colegas com fotografias javardonas da mulher do patrão, claro. Success!
Success, é um pesticida anti–yuppie. Facturas, sorrisos amarelos, apertos de mão e pancadinhas nas costas, cartões de cliente, talões disto e daquilo, um apartamento Ikea, a subscrição do ginásio, bebidas com sombrinha, revistas de especialidade de onde transbordam palavras como “dinâmico” e “empreendedor” e uma quantidade absurda de termos em inglês apesar do texto estar, supostamente, escrito noutro idioma. Tudo transformado em entulho à passagem da Wrecking Ball obesa que pende do riff brutamontes em “Blessed” – olha, afinal também uso termos em inglês. Success!
Success espelha, ainda, a realidade de uns KEN Mode que ouvem os ex-colegas a dizer “Epá, vocês é que se devem divertir à grande a tocar pelo mundo fora, sempre na farra”, agora que largaram os seus empregos e optaram por dedicarem-se exclusivamente à banda – apesar de mal lhes chegar para pagar as contas e de nem sempre verem o seu o esforço e dedicação reconhecidos. Success!
Se Entrench já mostrava uns KEN Mode menos virados para o metal propriamente dito, no novo longa-duração então é que se acabaram mesmo as teimas e o post-hardcore e noise rock imperam – nomes como Flipper, The Jesus Lyzard e Drive Like Jesu emergem, mas os KEN mode permanecem autênticos e sabem dar-lhes o devido tratamento.
Com acabamentos a cargo de Steve Albini e selo Seasons of Mist, Success é das melhores coisinhas que vamos ouvir este ano. Confirmemo-lo numa “Blessed” que nos esmaga, umas “These Tight Jeans” e “I Just Liked Fire” que não nos deixam estar quietos, na contagiante “Management Control”, e numa “Dead Actors” com food for thought – “lá está ele a usar estrangeiro”.