//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Braga foi a terceira data de apresentação em Portugal do álbum “Praia”, lançado no ano passado. Marcavam as 21h30 daquela gelada noite de Inverno quando Cícero Rosa Lins subiu ao palco do Theatro Circo, uma sala que nas palavras do próprio «é foda» – um claro elogio. Uma das mais frescas e brilhantes vozes da MPB contemporânea, que integra na sua música a tradição do Brasil, é juntamente com Mallu Magalhães e Silva um dos herdeiros de Caetano, Jobim, Ellis e Vinicius. Acredito que em 2046 serão estes agora jovens os mais reconhecidos embaixadores da cultura brasileira.
O concerto começou da melhor forma, com a tríade “O Lobo”, “Pra Animar O Bar” e “Tempo de Pipa” a ser entoada por Cícero e sua banda de quatro instrumentalistas, eles próprios igualmente figuras de destaque do cenário musical sul-americano (apresento-vos Baleia, por exemplo). Ouvimos percussão, guitarras, acordeão e ferrinhos como pano de fundo da voz melancólica de Cícero, um advogado que deixou a área legal para se dedicar à arte de transformar a emoção em música. Ao fundo, preenchia o palco uma simples projecção de cor, que variava a cada música quase que a complementar o sentimento que ecoava pelas filas lotadas de público.
Com três álbuns em carteira, disponíveis para download gratuito no site oficial – uma estratégia generosa que torna acessível a sua música a mais público, compuseram a setlist 19 faixas bem orquestradas. Os clássicos “Vagalumes Cegos” e “Laiá Laiá” do primeiro trabalho agitam o público, mas “Isabel” é o mostruário perfeito do novo rumo estético de Cícero. Desde 2011 que vemos uma composição cada vez mais rica, evoluindo da simplicidade introspectiva do disco “Canções de Apartamento”, com reflexões que povoam ainda hoje milhares de páginas no Tumblr, para a grandiosidade do arriscado “Praia”, pontuado por alguns momentos de experimentação em que Cícero se permite a integrar elementos de electrónica.
Mais optimista, é certo, ao vivo Cícero encontra-se com o público. Diz-nos «Faz um tempo eu não sei o que é saudade» na belíssima “Terminal Alvorada” – que considero já a minha favorita do carioca. É pela palavra e pela música que melhor se expressa, remetendo para aí o diálogo. Foi uma noite muito consistente e equilibrada. Ouvimos um pouco de cada disco, desde os sucessos mais reconhecidos àquelas que, suponho eu, serão as composições que mais gozo lhe trazem. É sempre bom ouvir Cícero, melhor ainda ao vivo.