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“Sonic Debris“, o terceiro disco de originais dos Miss Lava, chegou durante este mês de Maio e teve lançamento mundial pela norte americana Small Stone Records. O disco testemunha a exploração de novas paisagens sonoras pela banda, consequência de um processo criativo mais aberto e inclusivo, e os Miss Lava falam sobre isso nas linhas que se seguem.
Apesar de ser a primeira do álbum, esta música só apareceu em estúdio e não estava para sair no disco. Tudo nasceu no ensaio final, antes de entrarmos em estúdio, quando o Raffah começou a tocar um “riff” no fim do ensaio. Eu (Johnny) adorei logo o “riff”, pedi para ele tocar outra vez, e a rir em jeito de provocação ele recusou, como quem diz já temos músicas suficientes para o álbum.
Quando fomos para estúdio, era suposto o J. Garcia gravar as baterias em três ou quatro dias, mas ao fim de um dia e meio tinha tudo gravado, então, como eu ainda tinha esse “riff” na cabeça insisti para que nós o gravássemos, e com a ajuda do Fernando Matias (produtor) convencemos o Raffah a tocar o que viria a ser a nossa música de abertura. Tudo começou ali, o entusiasmo foi tanto que passado duas horas já tínhamos um esboço muito aproximado do resultado final. Nesta música temos a colaboração do Marco Resende nos coros do refrão e do Salvador Gouveia, que nos empresta a sua voz mais satânica, para criar o ambiente mais demoníaco da música. A letra fala de um “cocktail” de personagens e ações infernais como estando na origem de uma besta. Ou seja, tentar explicar como uma pessoa normal se torna, por exemplo, um terrorista. Usámos também algumas passagens da bíblia invertidas, para dar ainda mais ambiente negro.
Esta foi provavelmente a primeira música a ser escrita para o disco. Surgiu até antes da entrada do Ricardo na banda, apesar de também ter o contributo dele. Penso que esta música nasceu de uma das muitas sessões que o Raffah e o J. Garcia tiverem durante as pausas dos seus trabalhos para o almoço.
A música fala sobre libertares-te do tédio e da apatia e de não viver de glórias antigas.
Hoje em dia, muito culpa das redes sociais, acabamos muitas vezes por manter a aparência que vivemos uma vida mais ativa do que na realidade vivemos. Acredito que um grande número de pessoas vive a maior parte do seu tempo livre simplesmente no sofá, à frente da televisão ou do computador ou a simular nas redes sociais o quanto a sua vida é interessante. É sobre, e é para essas pessoas que a mensagem é dirigida.
Quisemos começar a música em discurso direto, irritado e de provocação e tivemos a ideia de meter uma intro só com voz.
Depois de eu ter gravado a intro na pré-produção, achámos que seria interessante ter uma voz diferente da minha. Felizmente tivemos a sorte e o prazer de poder contar com o Rui Guerra dos “The Quartet of Woah!“, que viveu muitos anos no Canadá e que tinha todos os requisitos e mais alguns para o trabalho. Para nós a interpretação dele elevou todo o discurso para outro nível. Ficámos super contentes com o resultado final.
Esta música nasceu curiosamente, e pela primeira vez na nossa banda, a partir de uma ideia de voz. Eu tinha uma ideia de uma repetição de palavras com o mesmo som que me parecia bem musical. A minha ideia era algo meio psicadélico e ambiental. Mostrei a ideia ao Raffah em minha casa. Ele agarrou logo e fez crescer a ideia. Dentro da sala de ensaio, e todos juntos, levámos a ideia ainda mais à frente. Resultou para mim na música mais espacial e psicadélica do álbum.
Nesta música tivemos em estúdio a colaboração do Tiago Jónatas dos “The Rising Sun Experience”. Ele acrescentou o “seu” Teremim para dar aquele “toque” espacial e psicadélico extra.
Com este ambiente todo, o tema da música teria de ser espacial também. “I’m the Asteroid”, é portanto um paralelismo entre um asteroide à deriva, que pode resultar num impacto altamente destrutivo, e uma pessoa desprendida e que vive a vida sem rumo, meio à deriva. Para mim este tipo de pessoas, desgarradas e até negligentes, podem ter um impacto bastante negativo e causar grande estragos nas vida dos outros.
Inicialmente tínhamos pensado ir para estúdio com 12 músicas para escolher 10. Saímos de lá com 14! Esta música, tal com a “Another Beast Is Born”, só apareceu durante o processo de gravações. Esta foi a última música a entrar no disco e já apareceu depois de o disco estar quase todo gravado.
Estava eu para gravar vozes e aparece o Raffah como uma acústica no estúdio. Enquanto o Matias preparava a sessão e fazia algumas edições eu e o Raffah fomos para a sala onde tinha os “amps” para ele me mostrar a ideia. Aí saiu o primeiro esboço.
Mais uma vez contamos aqui com a colaboração do Tiago Jónatas e com a colaboração do Fernando Matias naquela guitarra mais western.
Esta é uma música com uma letra simples sobre perda. Alguém que já não está entre nós, mas que continua viva nos nossos sonhos.
Esta música é outra que nasce da nossa primeira pré-produção ainda sem o Ricardo, mas era uma música condenada ao esquecimento até o Ricardo entrar. Foi juntamente com ele que lhe demos a volta, criando uma trip sónica que acompanha na perfeição a temática da letra.
Para escrever esta letra, inspirei-me no Documentário “Magic Trip: Ken Kesey’s Search for a Kool Place”, sobre uma “road trip” em 1964 em que Ken atravessava os Estados Unidos, da Califórnia a Nova Iorque, num “school bus” sobre o efeito de LSD. Ken Kesey é o escritor do Livro “Voando Sobre Um Ninho de Cucos”, livro que ele escreveu sobre a sua experiência quando trabalhava num hospital psiquiátrico, onde foi um dos primeiros voluntários a experimentar LSD como droga terapêutica. Numa viagem onde era para serem só três ou quatro pessoas num carro, acabou por ser cerca de vinte pessoas sobre o efeito de LSD durante mais de um mês dentro de um autocarro.
Penso que esta música foi a primeira em que contámos com o Ricardo no processo criativo. Lembro-me que foi o Raffah que apareceu com a ideia para os versos e para o refrão e foi a primeira música onde sentimos que podíamos contar com o Ricardo não só para o baixo, mas também nos “backing vocals”. As duas vozes juntas soavam mesmo bem no ensaio!
Em relação à letra, fui buscar várias personagens famosas dos “freaks shows” e imaginei um relacionamento com todas elas.
Fala também de como lidares e lutares com o teu próprio “freak show” e com as tuas aberrações dentro de uma relação. A maior parte das vezes, vemos mais imperfeições, mais coisas negativas do que as positivas, mas mesmo assim optamos por continuar dentro das relações sem sermos felizes.
O Raffah tinha a mania de cantarolar “riffs” no trânsito, gravá-los no telemóvel e enviá-los para o pessoal. Depois, ele e o J. Garcia brincavam com algumas dessas ideias, “jamando” à volta dos “riffs” durante as horas de almoço. “Symptomatic” nasce assim. Depois, mostraram-nos à noite num ensaio. Tive uma ideia muito rítmica para o refrão, eles seguiram-me e… aí está a música.
A letra é sobre alguém que perdeu toda a qualidade de vida devido a enxaquecas.
A dor é tão intensa e tão constante que mergulha numa depressão profunda e só pensa em acabar com a vida para acabar com a dor. Lembrei-me deste tema porque há 10 anos atrás, em Angola, apanhei uma amebíase (da família da cólera). Estive 2 dias seguidos em sofrimento com terríveis dores de cabeça, pânico, desorientação e alucinações, efeitos secundários de um medicamento chamado “Flagil”, um verdadeiro “flagelo”… Pensei na altura que estava a ter um esgotamento.
Esta foi a primeira música que nasceu a partir de um “riff” do Ricardo. Lembro-me de ele estar a aquecer os dedos com esse “riff” e olhámos uns para os outros na sala de ensaio e já estávamos todos com um sorriso. O Raffah rapidamente começou a “jamar” em cima do “riff” de baixo, o J. Garcia foi atrás e já estava. É provavelmente a minha música preferida do álbum.
A letra confesso que é uma viagem meio confusa, até para explicar.
Basicamente fala de pessoas venenosas que rastejam pelas nossas vidas só para espalhar o veneno, pessoas que vivem para as aparências que se só preocupam com os que os outros pensam, pessoas que por fora são maravilhosas, mas por dentro são miseráveis, falsas e solitárias.
Esta foi provavelmente a música que deu mais luta neste disco. Durante vários meses procurámos sempre a melhor estrutura para música. Cortámos muitas partes, voltámos a meter, mudámos refrões, etc… foi uma música que não gerou muito consenso desde o início, e como disse anteriormente, tínhamos de escolher 10 e deixar de fora 4. É uma música um pouco diferente do que nós estamos habituados a fazer e é diferente do que qualquer pessoa estaria à espera de ouvir de Miss Lava.
Para mim, esta música leva-me muito para o início do “grunge”. Sempre que oiço ou tocamos esta música, sinto sempre alguma nostalgia desses tempos.
Penso que foi precisamente por ser tão diferente do que costumamos fazer que acabou por entrar no álbum.
Em relação à letra há uma frase que resume bem o que quero dizer nesta música. “We all pray to Gods we’ve betrayed” – qualquer coisa como: todos rezamos por um Deus que atraiçoámos.
Para mim, a religião é um instrumento de hipocrisia e de decadência. Somos crentes e ateus quando nos dá jeito.
Por exemplo, no filme Advogado do Diabo, o Al Pacino tem uma passagem que eu acho maravilhosa, quando diz qualquer coisa do género, “este século foi todo meu”, e para mim a verdade é, se existir Deus e o Diabo, claramente o Diabo está a ganhar e tem mais seguidores. Hoje em dia quase toda a gente tem um preço, toda a gente é dona da razão, toda a gente critica, mas ninguém olha para o seu próprio umbigo. Mais uma vez referindo-me às redes sociais, toda a gente é perfeita no “facebook”, por exemplo.
Quando esta música surgiu, lembro-me que no início falávamos que era perfeita para começar o disco ou para começar um concerto. Tinha uma “vibe” meio de intro e que rebentava num “riff” poderoso e clássico.
Penso que é uma das músicas mais bem conseguidas do álbum e para mim é a forma perfeita de acabar o disco. É uma música com uma dinâmica forte e de celebração. É a despedida perfeita. A ideia é, para quem ouvir o álbum até aqui, sinta que acabámos por cima, a dar tudo o que tínhamos e quando a música acaba queremos que fique com água na boca para ouvir outra vez.
A letra foi inspirada num planeta pequeno como o do “Principezinho”, mas aqui é um planeta infernal, onde toda a semântica gira em torno das trevas. É um planeta sem luz, sem cor, cheio de poluição e doenças, onde se luta para ter o direito de apenas ver o sol nascer.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)