//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
No passado dia 7 de Março os Youthless editaram através da nosdiscos.pt em Portugal e da Club.the.mamoth / Kartel em Inglaterra, o seu primeiro longa-duração “This Glorious No Age“. Composto por dezassete faixas, o disco foi misturado por Justin Garrish (Vampire Weekend, The Strokes, Weezer) e gravado por Chris Common, Pedro Cruz e a própria banda em vários estúdios caseiros e sótãos entre Lisboa, Sintra e Cascais, e conta com uma série de colaborações de amigos. No entanto, e para vos explicar melhor este álbum, aqui ficam as palavras de Alex (vocalista e baterista), sobre cada uma das faixas.
Esta música é uma despedida… de um mundo antigo, de antiquadas maneiras de fazer, pensar e existir. Grande parte da temática deste LP está relacionada com a viagem de um mundo antigo (em termos do Marshal Mcluhen, o mundo “pré-eléctrico”) para um mundo novo. Marshal Mcluhen diz que a sociedade demora 200 anos a adaptar-se mentalmente ao novo ambiente tecnológico, o que quer dizer que, de certa forma, só agora estamos a perceber as ramificações das descobertas de há 200 anos. Mas, ao mesmo tempo, sentimos visceralmente o que está a acontecer neste momento, a aceleração do tempo, a implosão do mundo exterior dentro de nós, e a re-tribalização e conectividade do nosso ecossistema global.
A nível pessoal, eu tive uma lesão nas costas muito grave que implicou uma grande mudança na minha vida, por isso esta música é quase como um hino para seguir em frente e deixar o passado para trás. A imagem que tinha na cabeca enquanto escrevia era dos habitantes e soldados sobreviventes da guerra mitológica de Tróia, a escapar de barco da sua terra destruída.
Esta é das minhas músicas preferidas do disco. Sebastiano toca baixo com um slide, o que lhe dá um toque de Western antigo que adoro. E gravámos as vozes dos sobrinhos dele ingleses que estavam em Portugal de férias. Um tinha 6 anos e o outro 8, e demorou vários dias a conseguirmos que eles cantassem a música bem sem chorar ou gritar nem dizer parvoíces ao microfone. Eu tinha que contar-lhes histórias engraçadas sobre a música como se fosse um cartoon para que não tivessem medo da letra porque é muito obscura e tivemos que dar-lhes rebuçados e outros subornos.
Os teclados maravilhosos são do Duarte Ornelas (gravados no Black Sheep) que também toca em várias outras músicas do LP e acrescentou imenso ao álbum. O Duarte é um dos melhores arranjadores que conheço.
Esta é uma curta marcha funerária para nos despedirmos do mundo antigo. Como este é o nosso segundo trabalho discográfico (já editamos um EP chamado Telemachy), e como nós somos um duo, decidimos esconder os nomes de famosos duos da história do rock dentro dos títulos de muitas das músicas. Tentámos pô-los por ordem cronológica para que fizesse sentido com o resto da história. Portanto o funeral é para Tyrannosaurus Rex, não apenas no sentido literal, mas também para a primeira encarnação da banda T.Rex de Marc Bolan. No final dos anos ’60 ele editou 4 álbuns de folk psicadélico com este nome, começando completamente de forma acústica (guitarra acústica, bongos e duas vozes) e lentamente foi tornando a banda mais eléctrica até mudar o nome para T.Rex até eventualmente gravar o mítico álbum “Electric Warrior.” Portanto, isto é um adeus ao mundo acústico, ao mundo das leis mecânicas do Newton, e começamos a viajar no mundo eléctrico, do relativismo de Einstein e da subjectividade das leis quânticas.
Não se ouve bem mas as vozes que estão na pista são os sobrinhos do Sab a dizer “Goodbye” e também a ler “Wasteland,” um poema de T.S. Elliot que também aborda de certa forma esta temática.
Esta música é sobre estar vivo neste momento, no final de uma era e antes do novo mundo se ver claramente… Tudo é caótico, apocalíptico, assustador… ecologicamante, politicamente, espiritualmente. Mas, ao mesmo tempo, estamos vivos e há uma alegria enorme nisso… sentir, aceitar e continuar em frente.
A letra surgiu-me quando estava a andar pela 14th Street em NY depois da minha cirurgia nas costas. Não podia andar bem, nem tocar bateria, nem fazer quase nada, e depois de estar um ano inteiro sem sair da Europa, New York pareceu-me tão bárbaro… sujo, com gente stressada e infeliz a correr de um lado para o outro, com todos a lutarem pelo seu pedaço de calçado. Mas ao mesmo tempo estava a adorar tudo. Senti quanto amava NY, a minha terra natal, e a vida. Foi como sentir Deus no meio de Babylonia, e dali veio a letra.
Os teclados lindos desta música foram gravados pelo lindíssimo João Perreira (no estúdio/ cave do Sebastiano). Ele já tocava esta música ao vivo connosco mesmo antes de a gravarmos. Ele também pôs a sua magia na música Attention e em várias outras partes do LP.
Neu! foi a banda de Klaus Dinger e Michael Rother depois de saírem dos Kraftwerk e Suicide era um duo lendário nova iorquino formado por Alan Vega e Martin Rev que teve muita influência no uso de sintetizadores e baterias electrónicas antes de se tornarem moda. As duas bandas eram dos anos 70, e tiveram pouco sucesso comercial mas foram seminais para o rock moderno e são muito reconhecidos hoje em dia.
A letra desta música fala de uma nova geração de adolescentes… de como é nascer num mundo onde sabes à partida que tudo o que fazes está a matar o teu habitat… como um bébé que sabe que ao amamentar está a matar a sua mãe… mas não tem outra opção. Interessa-me muito essa frieza porque de certa forma tens que te desligar racionalmente das tuas acções.
A segunda voz nesta música é da muito talentosa Francisca Cortesão dos Minta & The Brook Trout e há uns gritos do Sebastiano no refrão que são das minhas coisas preferidas de todo o disco.
Smersh era um duo formado por Mike Mangino e Chris Shepard em New Jersey que nos anos 70 e 80 fizeram imenso barulho techno/rock/industrial com sintetizadores, brinquedos e máquinas analógicas. Eles lembram-me muito o Sab e eu porque passaram anos e anos a brincar e a fazer barulho numa cave, a beber cerveja sem mostrar as canções a ninguém, só como diversão. Nós somos muito assim.
O título desta música também é o título de um dos livros de Marshal Mcluhen, o escritor que tanto influenciou este LP. A ideia do livro, e desta canção, é como os homens constroem a tecnologia como se fosse uma extensão do seu corpo e espírito. O homem constrói a tecnologia mas a tecnologia muda o homem até que ambos são criações um do outro.
Usei temas pessoais para abordar os conceitos que queríamos falar no LP, por isso esta música é especificamente sobre uma relação muito longa que tive e que deixei na altura em que a escrevi. Senti que eu sem ela era outra pessoa, como se tivesse a deixar para trás uma parte de mim e achei que era uma boa analogia.
Este é o nome de um duo lendário formado por bateria e sintetizador. Na ordem das músicas, todas as bandas duos às quais fazemos referência, estão colocadas de forma cronológica na história (anos 60, 70, 80, etc.), com excepção desta. O nome da banda lembra-me a Pomo de Ouro da mitologia grega, a maçã dourada que semeia a discórdia entre os deuses e que eventualmente leva os gregos à guerra de Tróia.
Esta música é sobre a antecipação do futuro. Sinto que com toda a obsessão e incerteza que temos sobre o futuro neste momento, tudo são visões apocalípticas (aquecimento global, terceira guerra mundial, economia digital e morte da classe média) ou utópicas (a singularidade, a automatização, energia gratuita para todos). Na música misturámos as duas coisas até não saber qual é qual. Medo da utopia? Amar a desintegração?
Na história que o LP conta, este é o momento mesmo antes de chegar ao “novo mundo”. A calma antes da tempestade.
Sab tem um dom que nunca vi em ninguém. Consegue sons de feedback com o baixo que parecem animais e espíritos que falam pelo amplificador. Nesta música ele conseguiu um som que me parece ser um cavalo a aproximar-se… por isso na história fizemos como se fossem os 4 cavalos da morte, da profecia bíblica do fim dos tempos.
Pale horse and Rider também é o nome de um duo musical formado por Jon DeRosa e Marc Gartman que surgiu mesmo antes da mudança de milénio (o famoso ano 2000 apocalíptico) mas teve uma vida breve como projecto artístico.
Como muita gente sabe, o título desta música também é o nome de um duo de noise rock de Providence, EUA, que é conhecido pelos seus concertos completamente loucos e brutais. Sab e eu já os vimos ao vivo, são completas bestas, é lindo!
No disco esta é a parte da história em que duas frentes meteorológicas chocam… o mundo antigo e o mundo novo. Quando isto acontece há sempre uma tempestade. Não sei se é o que já estamos a passar no mundo, com todas as guerras e crises constantes… ou, do que tenho mais medo, o que está para chegar. Esta foi a nossa expressão musical desse fenómeno.
O nome desta música é de uma suposta “sociedade secreta” na universidade de Yale do qual faziam parte vários membros da família Bush, Kerry e outros vilões (na verdade é só um clube universitário inofensivo).
Na história do disco a música fala dos resultados depois da tempestade. Se a tecnologia é uma extensão do corpo do homem, e estamos a viajar do mecânico até ao digital, então isso actua como um espelho da viagem básica do homem do físico para o efémero. Das coisas materias para ideais e emoções. Do corpo para o espírito. E depois do cadáver do mundo físico, eleva-se a alma e continua-se pelo mundo novo.
Esta música foi muito importante para mim, porque a letra fala de uma experiência muito forte que tive. Um dia ao entrar em casa de um amigo meu para levar o cão dele a passear enquanto ele não estava, encontrei a jovem mulher-a-dias dele morta no chão. Via-se que tinha acontecido mesmo momentos antes de eu entrar assim por isso passei 40 minutos a tentar reanimá-la (com as urgências ao telefone a dar-me instruções), e a cantar e a falar para ela, mas não resultou e ela morreu. Fiquei bastante lixado da cabeça durante algum tempo após esta experiência, e escrevi esta letra, que fala muito directamente sobre essa experiência, como homenagem a essa senhora e como auto-terapia. A música é dedicada à Cláudia e à sua família.
A transição de teclas do final da música é do Francisco Ferreira, que também toca em muitas outras músicas do disco. O Francisco é uma fonte constante de energia, boas ideias e boa onda. Ele também é um artista gráfico cheio de talento e fez muita da arte gráfica do LP (com os talentosos Mariana Dias de Cunha, Sara Feio e Marcos Espírito Santo).
As vozes foram gravadas na cave do Frankie Chavez, pelo incrivelmente paciente Pedro Cruz. Nesta música gritei tanto no refrão que perdi a voz e o Pedro fartava-se de rir de mim.
Black Keys é uma referência de um duo musical muito óbvio. Durante alguns tempos íamos chamar à música “Black Keys and White Stripes” porque havia uma rivalidade muito grande entre Jack White e Dan Auerbach, à qual eu achava bastante piada, mas depois decidimos ir pelo caminho mais subtil.
A música fala dos meus sonhos sobre o futuro… às vezes são pesadelos mas às vezes as nuvens partem e vejo o lado optimista. Black Keys é uma referência às teclas pretas de um piano (que são as notas dissonantes na escala maior de Dó) ou a uma chave preta, como a da caixa de Pandora que contém os males do mundo.
A Francisca Cortesão também canta a segunda voz nesta música. Gostamos imenso dela mas ao gravar pensámos que se calhar ia ter dificuldades por não ser muito o seu estilo de música, mas ela apanhou tudo à primeira com tanta facilidade que fazia aquilo soar mil vezes melhor do que imaginámos!
Este nome é de um duo indie de Brooklyn/ LA. A letra da música foi escrita num monte na Peneda-Gerês, durante uma caminhada que fiz, e também foi inspirada um pouco por um documentário chamado “Into Great Silence” sobre monges que fizeram um voto de silêncio. Fala da evolução, da possibilidade de um futuro para humanos conscientes e iluminados.
Quando éramos jovens, Sebastiano tocava gaita-de-foles e sinto essa influência na linha de baixo que ele faz.
Este é o nome de um duo de dança nova iorquino da editora DFA. No início, quando escrevia, Mcluhen pensava que o mundo eléctrico, por ser uma extensão do nosso sistema nervoso, também era uma extensão do nosso corpo espiritual. Ele pensava que esta extensão eléctrica era uma escada pela qual o Espírito Santo do catolicismo podia descer à terra e materializar-se. Mas mais tarde na sua carreira, Mcluhen fala da electricidade como uma projecção disso tudo, uma ilusão, quase como uma ilusão de Maya no budismo.
O título desta música (e do álbum) faz referência à banda No Age, um duo de noise rock de L.A. com quem tocámos em Manchester e de quem gostamos muito. Esta música é mesmo sobre a idade onde vivemos agora. Onde ainda compramos coisas nas lojas porque os velhos sistemas ainda existem, mas os ingredientes flutuam no ar à nossa volta, não sabemos de onde vêm as coisas que usamos, não sabemos para onde vão. Nós flutuamos no ar, também desligados das raízes. Mandamos as nossas vozes e imagens pelo mundo enquanto nos tentamos mover ao ritmo dos nossos sentimentos e sentirmos ao ritmo da informação que nos chega.
O título faz referência à minha opinião que hoje em dia estamos obcecados pelo passado (nostalgia cultural) e hipnotizados pelo futuro (constante projecção do que vem aí) mas não há um sentido de caracter próprio do agora. As modas, a arte, a cultura, parece tudo um Pós-Pósmoderno “cut and paste” do que já foi ou a preparação do que está para vir.
Nesta música o Chris Common, com quem gravámos os baixos e baterias, tocou imensas percussões. Ele também pensava que o baixo deveria soar a algo tipo Paul Simon sujo, por isso meteu uma esponja debaixo das cordas do baixo, é por isso que tem um som tipo afro-sonic youth.
Fuck Buttons é um duo de Bristol que toca, nas suas palavras, “end of the world party music”, com brinquedos e máquinas e instrumentos digitais.
Para obter os feedbacks que estão no LP todo (estão escondidas no mix como ambientes sónicos em quase todas as pistas), Sebastiano ligou todos os amplificadores e pedais que ele tinha (e mais alguns emprestados) em linha, e passou várias horas por dia, durante vários dias, a fazer sons malucos e a gravá-los. Ele parecia um cientista maluco e no final de cada sessão ele andava meio torto porque o som era tão alto que lhe afectava o equilíbrio. Por isso amo tanto tocar com Sab, é tipo um mad scientist de som e feedbacks.
O nome é de um duo experimental de L.A., Sab e eu vimo-los a tocar na ZDB e o som deles é completamente electrónico e abstracto. Eles fazem pequenas máquinas elétricas de sons que dão ao público e o público é que faz as músicas passando os brinquedos de um lado para o outro. Pensámos que era o conceito perfeito para acabar… o digitalismo abstracto futurista.
A letra da música é uma reconciliação entre o caos e a estrutura, o ateísmo e a fé. De certa forma, é uma música de amor cantada à física quântica.
Musicalmente pensámos que era fixe acabar com uma música dub. Algo que nos relembrava as nossas raízes nos Three and a Quarter, a nossa primeira banda quando éramos miúdos, e por outro lado algo mais contemplativo, uma viagem sónica.
Quando estávamos a gravar as vozes, só eu e o Sebastiano na cave, eu tentei vários takes mas nunca me saía bem. Então o Sab teve a brilhante ideia de me fazer fumar um bocado de erva que ele tinha guardado, porque dizia que era uma música dub e que eu tinha que entrar no vibe certo. Depois de fumar consegui cantar a música à primeira, quase tudo num take directo. São este tipo de truques que um bom produtor tem que ter sempre na manga.
A Arte-Factos é uma revista online fundada em Abril de 2010 por um grupo de jovens interessados em cultura. (Ver mais artigos)