//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
Seja qual for o ângulo e a opinião que se tenham sobre Linhas de Wellington, um dado claro é que se trata de uma grande aposta de produção multinacional. Senão vejamos, trata-se de um projecto de Paulo Branco, realizado a meias por Raoul Ruiz (novamente juntos após Mistérios de Lisboa, numa colaboração que voltou a incluir o argumentista Carlos Saboga) e, após a morte do cineasta chileno, pela mulher Valeria Sarmiento e com um cast tremendo. Do lado nacional, temos Nuno Lopes, Adriano Luz, Gonçalo Waddington, Soraia Chaves, Maria João Bastos, Carloto Cotta (após Tabu), Albano Jerónimo (após Florbela) ou Joana de Verona (após Rafa). Em termos internacionais, há ainda John Malkovich, Marisa Paredes, Catherine Deneuve, Isabelle Hupert ou Michel Piccoli.
Não se trata de um filme de guerra essencialmente histórico e pedagógico, meramente para compreender objectivamente o que foram as invasões francesas (no caso e em particular, a 3ª e última invasão), e muito menos um daqueles épicos em que as cenas de acção e de sensacionalismo barato absorvem quase tudo e disfarçam um argumento profundamente fraco. Finalmente, também não é uma obra parcial e simplista, do cliché dos “bons e maus”, que opte claramente por defender uma parte do conflito. Embora a vertente luso-britânica seja a mais retratada, o filme mostra, a espaços, o outro lado. Bastaria a imagem dos soldados franceses, famintos e quase moribundos, para garantir uma certa independência de olhar.
A aposta é retratar a guerra através das figuras mais marginais que nela estão presentes. Embora apareçam aqui Massena e Wellington, líderes dos dois eixos em confronto, as principais personagens do filme são uma prostituta que se aproveita do apetite sexual dos soldados, um negociante sem escrúpulos, um sargento anónimo, um tenente português com uma bala na cabeça e em fuga dos franceses, um homem dividido entre os dois campos em disputa, uma espanhola que permanece em Coimbra após a evacuação da cidade e que enloquece após ser violada, o pintor privado de Wellington, um abade guerrilheiro, um homem em busca desesperada da sua esposa, uma ousada jovem britânica, a viúva de um cabo inglês morto em combate… (e ainda faltarão uns tantos).
O problema do filme está precisamente no excesso de personagens e de caminhos divergentes. Parece que toda a produção foi levada por uma excessiva grandiloquência e que, com tanto actor em mãos, se viu obrigada a criar uma manta de retalhos para incluir um elenco tão luxuoso. O resultado são histórias demasiado simples, curtas e sem grande ligação ou emoção, não havendo um fio condutor para dar consistência à obra. Por outro lado, as 2 horas e meia que o filme dura mostram um meio caminho entre uma mini-série que teria mais tempo para desenvolver as inúmeras pontas soltas que ficam em aberto (parece que vai existir uma versão deLinhas de Wellington com essa forma) e uma longa-metragem que, no caso, acaba por ser demasiado grande para a falta de conteúdo interessante que apresenta.
A ideia de realizar um mosaico de guerra, com alguma reflexão filosófica sobre a condição humana num contexto extremo (fiel aos melhores filmes do género) e a partir de personagens marginais, é um belo ponto de partida. Pena que o resultado final fique aquém dessa base interessante e da expectativa criada pelo leque de extraordinários actores presentes em Linhas de Wellington.