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The Road, filme anterior de John Hillcoat e adaptação da aclamada obra de Cormac McCarthy, era tanto um murro no estômago e uma recriação tão crua e dura quanto desejável do ambiente devastador do livro, como uma obra de uma impressionante beleza e humanismo num contexto apocalíptico. Como tal, a expectativa só poderia ser grande para Lawless.
A aridez de um mundo destruído é substituída pela aridez de um genuíno westernamericano. Nick Cave (ele mesmo, o músico, repetindo a parceria com Hillcoat deEscolha Mortal, de 2005, ainda com o realizador numa fase mais obscura) apresenta um argumento enquadrado nos anos 20, no período da grande depressão e da lei seca. Aproveitando a ocasião, os três irmãos Bondurant encetam um negócio de contrabando de álcool em Franklin County. Forrest é o mais frio e magnânimo, Howard o duro e impulsivo e Jack o frágil e sensível (a primeira cena é bastante forte e remete-nos logo para esse facto). Tudo muda quando o implacável Charlie Rakes chega de Chicago para meter ordem na pequena terra da América profunda. Quando Forrest é quase degolado e Howard é invadido pelo sentimento de culpa, Jack tenta, qual Michael Corleone, assumir as rédeas do negócio familiar, com resultados imprevisíveis.
É muito difícil não valorizar a questão estética do filme. Visualmente é finíssimo, com uma fotografia de uma beleza impressionante. Em termos sonoros, a banda-sonora de Cave e Ellis, com a colaboração de estrelas country como Emmylou Harris ou Willie Nelson, fiel ao género, mas de uma forma particularmente tensa e soturna, volta a ser notável depois do trabalho musical para The Road ou The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford. E trata-se de um western envolvente na sua violência (ora mais séria, ora com um toque de humor “Tarantiniano”) e no suspense que consegue criar.
Por outro lado, Forrest é, nos silêncios e quase grunhidos, um fora-da-lei capaz de causar as devidas simpatias, e Rakes é, com a aparência sempre impecável e a atitude de justiceiro, um “oficial da lei” caricatamente soberbo. E esta composição de personagens só é enobrecida por um belo leque de actores, sejam Guy Pearce, Tom Hardy e Shia LaBoeuf nos principais papéis, mas também os fabulosos Jessica Chastain (no papel de amante de Forrest) e Gary Oldman (outro imponente mafioso local).
Assim, com bons actores, boas personagens e um formalismo irrepreensível, Lawlesstem boa parte do caminho percorrido para ser uma obra-prima. Se não o é, será porque falta alguma ligação entre as personagens (o foco fica demasiado em Jack), nomeadamente na força da ligação familiar alimentada por uma irresistível aura burlesca de imortalidade. E porque o final lança uma ponte para o futuro que se torna curta e demasiado apressada, sem um contexto mais forte que a sustente. De qualquer das formas, um belo western e a demonstração de que Hillcoat é um dos grandes nomes a ter em conta nos próximos anos.