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Depois das invasões francesas em As Linhas de Wellington e da missão solidária de Aristides Sousa Mendes em O Cônsul de Bordéus, eis que estreia, no espaço de poucos meses, mais um filme histórico português. Operação Outono, de Bruno de Almeida (um português radicado em Nova Iorque), fala sobre Humberto Delgado, mais propriamente sobre a iniciativa secreta do Estado Português para eliminar o general sem medo. Dada a proximidade dos lançamentos e alguma semelhança temporal e histórica, no contexto da subversão das ordens de Salazar, é normal que se faça alguma comparação entre este filme e a fraquíssima história de encantar que Manso e Correa fizeram sobre Sousa Mendes.
Comecemos por aquilo que os dois filmes têm em comum: uma profunda inverosimilhança linguística. A escolha do americano John Ventimiglia (o Artie Bucco da série Os Sopranos) para interpretar Humberto Delgado, com dobragem em português, é de um irrealismo tremendo e não tem qualquer justificação lógica. Fora isso, quase bastaria a cena inicial, plena de ironia, com um breve trecho de um inquérito pós 25-de Abril ao antigo director da PIDE, Silva Pais, para que Operação Outono tivesse mais chama cinematográfica que O Cônsul de Bordéus.
Trata-se de um thriller que acompanha todo o processo de assassinato de Humberto Delgado em Espanha e os respectivos inquérito e julgamento posteriores. Uma das virtudes do filme é mostrar de forma consistente e com alguma complexidade as teias intrincadas de promiscuidades que se moviam na PIDE, não só durante o Estado Novo, mas também após a Revolução dos Cravos. E fá-lo com uma tensão interessante, aprimorada pela belíssima música dos Dead Combo e por uma montagem plena de ritmo. Para além do mais, esquecendo a escolha de Delgado, as interpretações são muito mais credíveis que em O Cônsul de Bordéus, com destaque para o devidamente implacável Carlos Santos como Rosa Casaco (o líder da operação) ou para a experiência de Camané na representação, na pele de um algo caricato guarda fronteiriço.
Operação Outono pode não ser uma grande obra de cinema, até porque o final revela claramente mais do que o necessário e porque poderia abordar um pouco melhor, ainda que com alguma construção ficcional, todos os preparativos do assassinato do general. Mas não deixa de ser um filme que se vê bem, com uma construção formal apurada e um modo interessante de percebermos um contexto histórico importante do século XX português, nomeadamente o lado mais secreto, abafado e auto-protector da perversa e repressiva Polícia Internacional de Defesa do Estado.