//pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.js
(adsbygoogle = window.adsbygoogle || []).push({});
O contexto histórico de Barbara é a claustrofóbica Alemanha Oriental em 1980. Após uma entrada ao som de uma imponente guitarra, algures entre o imaginário de Norberto Lobo e as maravilhosas bandas-sonoras de Gustavo Santaolalla, vemos desde logo um plano de Barbara, uma médica de Berlim acabada de chegar a uma zona rural do nordeste germânico, numa espécie de exílio profissional forçado.
Ela é a protagonista desta história, uma mulher fria, aparentemente desligada do mundo que a rodeia e com um passado difuso do qual pouco sabemos. Ao longo do filme, numa cuidadosa evolução psicológica, a nossa percepção sobre Barbara vai sofrendo modificações, nomeadamente pela afectividade quase maternal que demonstra por uma doente (Stella), pelos laivos de uma certa vida paralela ou no aumento da confiança com o colega Andre (o ambiente tenso dos diálogos entre ambos é bem interessante).
O que distingue Barbara do vulgar filme de hospital é, obviamente, a questão política, em que os médicos são também, à sua maneira e com as dúvidas enormes que ficamos, peões do repressivo sistema comunista na RDA. Aliás, é preponderante o dilema da protagonista entre a fuga a uma vida bastante controlada e cinzenta e a preservação profissional, dentológica e, porque não, emocional, com base na resolução de alguns aspectos médicos pendentes. Dilema esse que ganha mais força realista pelo tom sóbrio e sem vestígios sentimentalões que o filme alemão apresenta.
Barbara não terá o poder avassalador do sublime Das Leben Der Anderen (As Vidas dos Outros), a fabulosa obra de 2006 em torno da Stasi (polícia política da Alemanha de Leste), até porque a questão da humanização dos agentes do regime surge de forma muito fugaz e algo precipitada. Mas, apesar de alguma dispersão, é um filme interessante, com uma narrativa equilibrada e um travo de genuína solidariedade inspiradora. E, com uma simples troca de olhares, haverá mais chama, complexidade e emoção cinematográficas na cena final do que em horas e horas de cinema comercial tecnicamente e/ou moralmente pretensioso.