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Mau começo de Verão para o cinema de qualidade: depois de Michael Cimino, o dia de ontem viu partir Abbas Kiarostami. Nascido em 1940, no Irão, Kiarostami distinguiu-se como um dos mais importantes e inovadores cineastas dos últimos cinquenta anos; deixa, também, obra poética, na fotografia e nas artes plásticas.
Fez a maioria da carreira no próprio Irão (filmando tardiamente fora dele, no Uganda, em Itália e no Japão), retratando-o antes e depois da revolução islâmica de 1979. A partir de uma perspectiva contemporânea, deu-nos a conhecer as idiossincrasias da sociedade iraniana, em particular o substrato da civilização persa da qual descende. Sendo Kiarostami um homem de vários interesses, ali se projectavam vultos como Hafez ou Omar Khayyam, eles próprios uns polímatas do seu tempo.
Filmes como Ten, Taste of Cherry (este valeu-lhe a Palma de Ouro em Cannes, em 1997), a trilogia de Koker, Close-Up ou The Wind Will Carry Us são cartões-de-visita de uma carreira longa, onde pontificam temas como a vida e a morte e uma das suas “marcas registadas”, a longitude de planos – evidentes na trilogia de Koker, vila afectada pelo grande sismo de 1990, e na vontade de suicídio da personagem principal de Taste of Cherry. Não sendo cinema acessível a todos, deve ser cinema visto por todos, contudo.
Para além de nos dar a conhecer outros cineastas iranianos nos seus filmes (como Mohsen Makhmalbaf), Abbas Kiarostami deixa discípulos: Jafar Panahi, seu antigo assistente de produção, é um cineasta já consagrado (veja-se Taxi, de 2015, na linha de Ten). Agora já todos podem dizer que eram fãs, não sem antes de uma revisão de uma obra que merece ampla retrospectiva.