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Night Train to Lisbon
Título Português: Comboio Nocturno para Lisboa | Ano: 2013 | Duração: 111m | Género: Thriller, Romance, Drama, Histórico
País: Portugal / Suiça / Alemanha | Realizador: Bille August | Elenco: Jeremy Irons, Mélanie Laurent, Charlotte Rampling, Bruno Ganz, Beatriz Batarda, Marco D'Almeida

Night Train To Lisbon é um filme surpreendente e poético sobre a memória do Estado Novo, nomeadamente sobre a resistência anti-fascista e o impacto da PIDE no período que anteceu a Revolução dos Cravos. A guiá-lo está, nos nossos dias, um professor suiço (Raimund) cuja vida muito certinha e aborrecida (um pouco como a personagem de Philip Seymour Hoffman em 25th Hour, mas menos nerd) é abalada pelo dia em que, em Berna, salva uma jovem do suicídio. Quando ela desaparece e deixa um casaco, onde se encontra um livro de um tal de Amadeu Prado e uns bilhetes de comboio para Lisboa, Raymund decide largar tudo, dirigir-se para a capital portuguesa e descobrir o passado do autor daquelas palavras.

O filme cria um certo sentimento agridoce. No lado bom, saúda-se a toada suficientemente sóbria que o realizador Bille August imprime, há momentos muito bonitos e com a marca das palavras poéticas e inspiradoras (o discurso na igreja é de um ateísmo libertador profundamente comovente), funciona bem enquanto alternância entre presente e passado e, entre o amor, a camaradagem e as contradições de um Portugal atrasado e repressivo, foca alguns aspectos interessantes. Por sua vez, ao nível das interpretações, há um cast muito interessante, que conta com o talento eterno e requintado de Jeremy Irons, mas também com nomes importantes do cinema europeu, como Bruno Ganz, Charlotte Gampling ou Beatriz Batarda (ver reportagem sobre o filme, incluindo excertos das entrevistas efectuadas pelo Arte-Factos a Bille August e Jeremy Irons)

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Contudo, o filme falha em alguns aspectos fundamentais. Por um lado, deixa Raimund no limbo entre o mero peão, que não o é, e a interessante influência que toda esta história podera ter na vida dele. Para tal, era preciso que a introdução fosse mais consistente e credível, que conhecêssemos melhor a personagem e que o argumento não fosse tão apressado a colocar a acção em Lisboa. Por outro lado, a trama acaba por perder-se na sucessão de acontecimentos, num excesso de pormenores pouco verosímeis (o regresso da rapariga inicial é, por exemplo, perfeitamente dispensável), precipitados e algo sentimentalões, faltando um rumo forte, claro e criativo.

Enfim, fica a curiosidade de saber o que, limando algumas arestas, Night Train to Lisbon poderia ter sido. Assim, é apenas um filme mediano, com momentos de particular beleza, mas que não chega a encantar.


sobre o autor

Joao Torgal

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