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Se Dentro de Casa, filme anterior de Ozon, explorava o voyeurismo e a invasão do espaço privado, o novo Jeune et Jolie dá um passo em frente e fá-lo de uma perspectiva mais íntima e com um ângulo tão curioso quanto incomodativo sobre a sexualidade. E as comparações com Shame são fortes, claras e justas.
A narrativa acompaha uma adolescente de 17 anos (Isabelle) em quatro momentos distintos, agrupados cirurgicamente nas quatro estações do ano. Se primeiro a vemos, de uma forma algo inocente, na descoberta da sexualidade num amor de Verão, tudo muda no Outono. Por detrás da rapariga semi-isolada, que pouco ou nada convive com os jovens da sua idade e que mantém uma relação famliar muito fechada, temos o pseudónimo Léa (descobrimos mais tarde que o nome não é ocasional), uma prostituta luxuosa, que embarca numa perigosa viagem de prazer, em que a recompensa financeira é claramente secundária. A catástrofe é inevitável, só que Ozon tem o mérito de a concretizar de uma forma nada óbvia.
Aquilo que marcava Shame, pelo lado de tarado sexual de uma pessoa aparentemente normal, surge aqui de forma invertida. Não só porque em vez de um homem adulto e bem sucedido, temos uma rapariga tímida e ainda menor de idade. Mas também porque a claustrofobia da obra-prima de Steve McQueen é substituída por uma ironia desconcertante. São inúmeros os momentos em que ela acontece de forma directa, mas merecem franco destaque dois pormenores particularmente notáveis, mais globais e menos óbvios. Por um lado, o diálogo em alemão da jovem com Felix, o amante de Verão, indicia uma metáfora sobre a rendição francesa ao poderio germânico na Europa. Por outro, quando em confronto com a postura pouco ortodoxa de Isabelle, é absolutamente brutal a auto-caracterização dos colegas de turma sobre a sua própria idade. A relação com Shame volta a existir na parte final, quando adivinhamos um desfecho idêntico. Só que Ozon volta a baralhar as coisas, numa sequência final plena de arrepio emotivo e em que surge a veterana e sempre bem-vinda Charlotte Rampling.
Jeune et Jolie tem também o mérito de revelar a lindíssima Marine Vacth enquanto protagonista, absolutamente perfeita no desempenho de uma personagem muito complexa e misteriosa. Ela é fundamental para a beleza visual do filme, com uma fotografia conteplativa muito bonita e uma equilibrada relação com a dimensão sonora, seja através do património de Françoise Hardy no acompanhamento da evolução da narrativa (sem ser preciso escolher “Tout Les Garçons et les Filles”), dos hits electro-pop (sabe sempre bem ouvir “Midnight City” dos M83) ou da cirúrgica partitura de Rombi.
Resumindo, Jeune et Jolie explora simultaneamente a sexualidade e os dramas da adolescência com uma complexidade, uma eficácia sarcástica, uma intensidade e um requinte multifacetado como poucas vezes terá sido feito no cinema. Um filme magnífico, a não perder quando estrear em sala.