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Vamos recordar o sentimento perturbador e a cumplicidade / piedade com o protagonista de Take Shelter. Ou o barco, os dois miúdos, a ilha e o sinistro pai de O Regresso, do russo Zvyagintsev. O primeiro é o filme anterior de Jeff Nichols, o realizador deste Mud (Fuga), enquanto o segundo partilha com ele um espaço físico semelhante. Quando sentimos imensas saudades da intensidade emotiva desses filmes extraordinários, é sinal de que Mud se revela uma aparente desilusão.
Acusado da morte do violador da amada Juniper (Reese Witherspoon), Mud (Matthew McConaughey) é um foragido da polícia e de caçadores de prémios que se esconde numa pequena ilha algures ao largo do Texas. Quando Neck e Ellis, dois miúdos que vivem numa casa-barco das redondezas, o encontram (de forma algo precipitada, saliente-se), decidem tentar ajudá-lo a fugir e a recuperar um grande amor, independentemente do perigo que correm.
Embora a acção seja inevitável, o maior trunfo do filme está em apresentá-la de forma moderada, de ser apenas um meio para atingir um fim. E o objectivo é mais vasto do que se possa pensar, numa improvável apresentação de ligações amorosas, onde entram o casal citado, o colapso do casamento entre os pais de Ellis e até o sentimento deste miúdo por uma rapariga mais velha.
Só que aquilo que poderia ser uma reflexão brilhante e improvável sobre o amor (incluindo amor dos pais pelos filhos), acaba por revelar-se algo disconexo e superficial. Sentimos isso ao longo do filme, durante mais de duas arrastadas horas, à espera que o final nos traga um pico emotivo que compense uma certa monotonia. Só que, nos antípodas do poderoso e aberto epílogo de Take Shelter, capaz de nos deixar petrificados na sala de cinema, Nichols apresenta-nos uma narrativa totalmente fechada, sem nervo ou grandes surpresas. Há momentos de algum peso dramático, como a revolta de Ellis com Mud na ilha e as cenas que se lhe seguem, mas é tudo muito curto para um filme com elevada expectativa. Até o genial Michael Shannon, protagonista dos filmes anteriores de Nichols, é aqui uma relativamente anónima personagem secundária (o tio de Neck). Será naturalmente coincidência, mas acaba por surgir como metáfora para o menor impacto de Mud.
Take Shelter revelava um mago no controlo de emoções e na apresentação de uma personagem complexa e perturbada, prosseguindo um percurso de realização de longas-metragens iniciado com Shotgun Stories. Mud será um passo atrás ou apenas uma pausa antes de um grande regresso (Midnight Special, novamente com Michael Shannon como protagonista)?