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Guilherme Henriques é aquilo a que podemos chamar um prodígio. Aos 22 anos viaja pelo mundo a filmar videoclipes de bandas de heavy metal. Motivados pelo espírito do Halloween, quisemos saber como chegou até aqui em tão tenra idade.
Guilherme, não é comum aos 22 anos teres já cerca de 20 vídeos realizados. Queres contar-nos o que te despertou para o mundo do audiovisual e como chegaste até ao mundo dos videoclipes?
Bem, sempre fui um apaixonado por cinema desde pequeno e creio que vem daí esta minha escolha por ter optado por estudar Cinema e Audiovisual quando acabo o meu 12º ano em Línguas e Humanidades. Estive muito perto de ir para História e cheguei mesmo a entrar em todas as opções desse curso tanto no Porto como Lisboa mas não sei o que me deu e decidi mandar-me de cabeça para o curso de Audiovisual e Multimédia na Lusófona do Porto. Tinha um grande amigo e colega de trabalho meu já a frequentar o curso que me falava muito bem do mesmo e pensei: “Porque não?” O mundo dos videoclipes aparece à cerca de um ano quando tenho a oportunidade de trabalhar com os Belphegor, uma das minhas bandas favoritas.
O videoclipe é a plataforma que queres continuar a usar para expor o teu trabalho ou tens em vista trabalhar noutros meios como cinema ou televisão, ficção, documentário?
Bem, para já é neste mundo que estou a apostar e a focar toda a minha atenção. Contudo, interessa-me bastante a video art e todo o tipo de intervenções artísticas que contenham o vídeo como suporte fulcral do seu ser. Não digo que não ao Cinema, nunca direi. Aliás, tento sempre dar uma “pintura” cinematográfica a tudo o que faço porque acho que o trabalho só tem a ganhar se for visto também ele como uma obra cinematográfica, até certo ponto. Sendo assim, para mim o videoclipe é o tipo de vídeo em que mais possibilidades oferece a nível de linguagem e abordagem de estilos. Podemos fazer uma animação 3D, tal como fizemos com os espanhóis Wormed, ter a pintura como base fundamental da criação, como foi o caso dos Belphegor, em que fui buscar muitos elementos do Wes Anderson e a forma como ele enquadra o personagem no quadro, enfim.
No ano passado fizeste video mapping na colaboração dos Juseph com os MOASE no Amplifest. Como surgiu a colaboração e como funciona o video mapping?
A ideia de aliar o som de MOASE, que a meu ver é estrondosamente visual e sugestivo, ao VJ ou video mapping veio da minha parte quando me sentei com o Ivo Madeira e o João Amorim a expor o que gostava de fazer com eles. Acontece que esta conversa surgiu na altura ideal porque eles juntamente com os JUSEPH tinham acabado de receber a proposta do Amplifest para realizarem um set conjunto no festival. Decidimos então aliar tudo isto neste espetáculo e desenvolver uma proposta única que unia os pólos musical e visual. A partir daí deram-se várias trocas de ideias, cheguei mesmo a ir a um ensaio com as duas bandas e mostrar-lhes o que tinha pensado e desenhado para cada um dos temas tocados e acho que tudo fluiu bastante bem do início ao fim da colaboração. Pelo menos para mim foi uma experiência incrível e uma das mais marcantes desta tão curta carreira!
Até agora tens realizado sempre videoclipes ligados ao metal. Há alguma ligação mais profunda que tenhas com a música extrema?
Há, sem dúvida! Contudo, nunca na minha vida sonhei que aos 22 anos estaria a viver da música ou a trabalhar diariamente com bandas de metal por todo o mundo! Sempre tive as minhas bandas de metal desde os meus 15, 16 anos e isso ainda hoje me ajuda bastante quando estou na mesa de edição. O facto de não ser um indivíduo completamente estranho ao estilo ou até à forma como encarar a música, como é tocada e sentida ajuda-me imenso a perceber o que a banda pretende do vídeo. Até hoje 99% dos meus trabalhos estão enquadrados dentro do mundo do metal, mas isso deve-se apenas ao meu ponto de partida, que foram os Belphegor. Foi o meu primeiro e talvez maior trabalho até à data e ainda hoje é o meu cartão de visita para muitas bandas que chegam até a mim. Sem eu imaginar que tal fosse acontecer, tornou-se numa bola de neve. Continuei com os Wormed, os Netherbird, os Heidra, depois os Hideous Divinity, os The Oath, os Demonstealer, mais recentemente os Unfathomable Ruinations e os Noctem, entre muitos outros nomes que felizmente tive a oportunidade de trabalhar e fazer parte da carreira desses grupos.
Tarefa ingrata, sabemos bem, mas até agora qual achas ser o teu trabalho mais bem conseguido e qual aquele que te deu mais gozo?
Sem dúvida que o primeiro é sempre o primeiro, por isso o trabalho que fiz com os Belphegor será sempre especial. Mas também recordo o prazer que me deu trabalhar com todas as outras bandas. Todos os vídeos são únicos, o que faz com que se criem experiências também elas únicas. Acho que o que realmente me dá mais gozo nisto tudo é fazer o que amo, viajar, ir a sítios que nunca imaginei conhecer e sobretudo as amizades e laços que se criam.
E como surgiu essa oportunidade de trabalhar com uma banda tão seminal como os Belphegor?
Tudo começa com o lançamento do mais recente álbum da banda, o Conjuring the Dead, em Agosto de 2014. Sem saber muito bem porquê ou como chegar até eles, decidi elaborar uma proposta visual juntamente com outros freelancers, que entretanto acabaram por entrar no projeto. Fizemos um desenho e estudo de personagens, maquilhagem, fizemos algumas fotos e enviámos a planificação e base da ideia para o mail oficial da banda. Creio que no fim foi um exercício para todos nós. Foi como se estivéssemos mesmo a fazer uma proposta real para os Belphegor porque sabia bem que o mais provável era nem obtermos resposta, coisa que aconteceu. Pelo menos até Maio de 2015 quando, já esquecido de tal projeto e email, estava à espera de um outro email e abro a mailbox e vejo que tenho uma resposta do próprio Helmuth Lehner a dizer que adoraram as ideias e que tinham budget para um novo videoclip que serviria para promover a tour Norte Americana com Ketaklysm daí a uns meses. Foi respirar fundo, verificar se estava mesmo acordado e pôr mãos à obra! Todo o processo de criação foi bastante transparente e livre. Deram-me liberdade para fazer tudo aquilo que tinha imaginado. Foram trocados centenas e centenas de emails naquele espaço de dois meses com ideias, fotos, previews e tudo o que foi necessário para chegarmos àquilo que é o resultado final.
Como nasce um videoclipe realizado por ti? Como lidas com os lugares comuns dos videoclipes de música pesada?
Tento sempre que tudo saia da forma mais natural possível, na verdade. Acho que acima de tudo temos que passar uma ideia de conforto e de segurança à banda. Contudo, logo de início há que assegurar uma série de coisas, como um guião coeso e aceite por ambas as partes, um storyboard, um estudo de personagens e depois começamos a tratar da logística da coisa, perceber como vamos fazer com viagens, equipamento, etc. Contudo, antes de tudo isto temos de ter sempre em mente que todas as bandas são diferentes, mesmo que o estilo seja o mesmo de uma outra com quem já tenhamos trabalhado anteriormente. Faço sempre a minha pesquisa avançada sobre o grupo, videoclipes anteriores, photo sessions, capas de álbuns… Enfim, quanto mais preparados estivermos para confrontar o cliente com ideias diferentes, melhor. O truque é percebermos aquilo que move o artista naquele lançamento e ajudá-lo a reinventar-se novamente. Nenhum artista quer fazer sempre as mesmas coisas e cá estou eu para impedir que isso aconteça. Faz parte do meu trabalho.
Quais os artistas visuais que mais te influenciam?
Olha, sou muito inspirado pelo mundo da fotografia e pintura. Aconselho vivamente o trabalho de artistas como o Chris Mars ou o Michael Hussar. Depois gosto muito de outros realizadores de videoclips musicais, como é o caso do Patric Ullaeus, do Zoran Bihac ou da malta da Grupa 13.
Diz-nos quais são os teus 5 videoclipes preferidos de sempre.
Sem sombra de dúvida, o “Blow your Trumpets Gabriel” e “The Satanist” são dois dos melhores videoclipes que já vi e não estou apenas a falar a nível de metal. Depois é de deixar cair o queixo quando falamos do trabalho do Zoran Bihac com os Rammstein, principalmente com a “Mein Teil”. Mais recentemente os Ghost lançaram o videoclipe do novo single “Square Hammer” e muita gente chama-os de antiquados ou de artistas perdidos noutro tempo. Eu por cá acho que é preciso ser-se um génio e saber-se muito de cinema para surgir com algo assim. Conseguia-te enumerar tantos trabalhos que adoro e que tenho como boas referências, mas provavelmente estes que te falei tenham sido aqueles que mais me marcaram.
E os principais artistas para quem gostarias de realizar videoclipes?
Não penso muito nisso e acho que não o devo fazer. Contudo, nunca sonhei poder trabalhar com os Belphegor e a verdade é que tal aconteceu por isso vamos-lhe chamar de artista número 1 (risos)! O futuro dirá o resto.