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O filme começa em movimento elíptico. Através de uma imagem em tons sépia, que nos reporta para os anos 70, a câmara foca uma família que luta para ajudar o seu filho mais velho, que apresenta sérias dificuldades de comunicação e alterações comportamentais severas. O pai discorda da ajuda oferecida por um especialista, frisando que a criança deve ser ainda mais exposta aos estímulos que a perturbam. Posto isto, o casal desentende-se, e a esposa decide abandonar o marido e os seus dois filhos.
Está traçada a trama desenvolvimental de Christian Wolff (Ben Affleck), um autista de alto funcionamento, que utiliza a sua diferença para trabalhar como contabilista dos criminosos mais ferozes. Estando na mira de Ray King (JK Simmons) e Marybeth Medina (Cynthia Addai-Robinson), agentes do departamento de finanças, Christian elege um cliente válido para os serviços fiscais: o dono de uma empresa de robótica que encontrou uma irregularidade contabilística. É neste contexto que conhece a contabilista da empresa, Danna Cummings (Anna Kendrick), que dá voz a um personagem pálida, com quem desenvolve alguma proximidade, o que planta no espectador a expectativa de romance eminente.
Desde logo, merece ser realçada a versatilidade de Ben Affleck. Seja em filmes de acção, thriller, romance, a sua expressão facial não muda. É como se não se adaptasse aos papéis, mas antes os colasse a uma base sólida, pouco mutável. Não deixa de ser estranho, que o protagonista, diagnosticado com autismo, nos faça lembrar a seriedade de um James Bond.
Depois esta mania de aliar o autismo a um “super poder” começa a tornar-se um cliché cinematográfico de muito mau tom. Quase como que, para compensar uma suposta “falha” desenvolvimental, os autistas tenham de se destacar em alguma área. Esta é uma mensagem perfeitamente paradoxal ao diálogo pela inclusão da diversidade, várias vezes propagado pela 7ªarte.
Neste âmbito, Christian não é apenas genial nas competências matemáticas, como também é um perito em artes marciais e técnicas de auto-defesa, desenvolvidas através dos treinos, organizados pelo pai, para que se soubesse defender no futuro. A este propósito, vamos vendo alguns flashbacks sobre a infância e adolescência de Christian, e de como uma educação rigorosa o ajudaram a aprimorar as suas competências, e inibir os comportamentos agressivos.
Quanto ao romance com Dana, a expectativa bastou-se a si mesma. Vemos alguma tensão entre ambos, mas não passa disso. Usando novamente o marcador de clichés do cinema, sublinho aqui outro: a confirmação de que personagens portadoras de deficiência ou perturbações mentais não têm tanto direito a um final feliz.
Quanto ao argumento, não há nada de extraordinário a apontar. Os mesmos volte-faces do costume, alguns sem muito nexo, outros vindos do vazio.
Um filme com alguma apatia e hipocrisia à mistura, a que se dá o benefício da dúvida de uma tentativa falhada de transmitir algo melhor.