De um dia para o outro – quase literalmente – Iris Apfel deixou de ser um fenómeno de Manhattan para se transformar num ícone da Moda à escala global. E tinha já oitenta anos de idade bem vividos.

O documentário Iris, exibido no Porto/Post/Doc e disponível no Netflix Portugal, é o perfeito biopic sobre esta vida singular: uma mulher que se encanta com o invulgar e que se demarca por não passar despercebida, em total contraste com a sua figura franzina. Iris cresceu em Nova Iorque e casou com Carl, por quem nutre amor e respeito profundos.

O documentário retrata Iris seguindo-a pelos seus compromissos, uma agenda carregada e um telefone que toca dezenas de vezes por dia. Revelando o seu arquivo pessoal, conta-nos como começou o negócio de decoração de interiores que a levou a viajar pelo mundo em busca das peças mais excêntricas, para os seus clientes e para si própria, coleccionadora de natureza. Percebemos que levou uma vida confortável, encantadora e invejável, muito graças à jovialidade do seu espírito. Enérgica, hoje em dia dedica-se à venda de produtos com o seu nome, à mentoria de jovens estudantes de moda, à catalogação e distribuição do seu acervo. É uma mulher de idade avançada, que possivelmente já percebeu que chegou a hora de cuidar do legado que deixa ao mundo.

Ao realizador cabe todo o mérito de uma produção intimista e reveladora, sem excesso de endeusamento. Torna-se evidente que Iris provém de uma classe média-alta nova-iorquina cujos sonhos não eram delimitados, mas não deixa de ser acessível e descontraída, criando ainda enorme empatia com o espectador.

Acima de tudo, o filme passa-nos uma mensagem de alento muito importante: todos somos únicos e irrepetíveis, e por mais desvairada que a nossa voz interior possa parecer, há que deixá-la falar. É na completa expressão da nossa individualidade que nos encontramos, tocamos quem nos rodeia e deixamos a nossa marca no mundo.